29 de set. de 2008

PALHEIRO DA COVA



Na margem sul do Mondego predominavam os extensos campos dunares que se estendiam desde a embocadura do rio, seguindo para sul pelo litoral (…)
As pequenas povoações piscatórias eram caracterizadas por construções primitivas de madeira, erguidas por estacaria e denominadas de palheiros. A pesca foi a actividade principal destas populações. A necessidade de não se distanciarem do mar obrigava-as a construções adaptadas às condições de instabilidade do terreno para vencerem a dinâmica litoral inerente à acção dos ventos e do mar. A povoação Cova de Lavos foi um exemplo típico desse tipo de aglomerado de palheiros. Hoje apenas denominada de Cova, a povoação lembrava uma aldeia lacustre construída sobre uma depressão dunar, em frente ao mar.
Os palheiros da Cova, disseminados por vezes em arruamentos, foram sempre de forma rectangular e chegaram a totalizar as cinco centenas de habitações.

Na foto: Palheiro da Cova. Em plano intermédio a capela da Gala.

Retirado de "Transição entre os séculos XIX e XX na Figueira da Foz: os aspectos sócio-culturais e seu enquadramento geo-natural através do contributo da fotografia", de Miguel de Carvalho, in As Ciências da Terra e da Vida ao Serviço do Ensino e do Desenvolvimento, Ed. Kiwanis Clube Figueira da Foz.

22 de set. de 2008

PARA AFUGENTAR AS BRUXAS


Eu me entrego a S. Silvestre
E à camisa que ele veste
E aos seus anjos, trinta e sete
Cortou a cabeça à sérpe
O coração ao leão.
Para que me livre do demónio
E a quantos aqui estão:
Ao redor desta casa
Anda uma grande conquista
Valha-me o Anjo da Guarda
Mais S. João Baptista

II tomo do Folclore da Figueira da Foz de Cardoso Martha e Augusto Pinto, Espózende, 1913, 269 p. Composto por “Devocionário”, “Superstições”, “Costumes”, “Adagiário” e “Contos Tradicionais”.

26 de ago. de 2008

O AMERICANO



Em 28 de Agosto de 1876 o Americano começou a transportar passageiros.
Inaugurado em Dezembro do ano anterior, o custo da construção da linha orçou em 45 contos. A obra provocou alguma polémica devido ao facto de a Empresa das Minas de Carvão do Cabo Mondego que detinha o alvará do transporte ter procedido a demolições na muralha buarquina. A empresa justificou-se com a inacção da Câmara no arranjo da via entre a Figueira e Buarcos prontificando-se a repará-la e a, logo que possível, começar a transportar banhistas no Americano.

Agora já posso dizer que foi inaugurado o caminho-de-ferro das Minas do Cabo Mondego. Os carros percorrem a totalidade da linha e às minas vai muita gente de passeio, muito mais rápido e cómodo que a rotineira excursão no clássico burro” (Tribuno Popular)

A tracção fazia-se, portanto, com cavalos ou mulas. Em 1888 foram acrescentadas duas extensões à linha: uma, que ligava o cais novo ao forno de cal da Salmanha (também da empresa) e a segunda, deste último ponto à estação de caminho de ferro.

Em Agosto de 1901 o horário praticado incluía carreiras de 15 em 15 minutos da Praça Nova para a praia, nove carreiras entre a estação e o centro da cidade, quatro carreiras do centro para Buarcos e uma da cidade para o Cabo Mondego.

Em Outubro de 1903 começa a usar-se a tracção a vapor que, no caso dos passageiros, era usada apenas em situações de grande afluência, como quando acontecia a festa do S. dos Passos em Buarcos.

Ainda chegou a ser pedida a tracção eléctrica mas esta acabou por não avançar. Em 1927 a empresa obteve um empréstimo com esta finalidade mas cuja aplicação se gorou.

O Americano entra em declínio a partir de 1926, altura em que foi abandonada a tracção a vapor e se voltou aos animais. Em 1931 a Câmara lança uma carreira de autocarros entre a estação e Buarcos (alugados à Gouveia e Campos de Coimbra) e assim aniquila o velho transporte.

Consultada a revista Bastão Piloto, nº 209/210, Set/Dez de 2000.

4 de ago. de 2008

PEDRO FERNANDES THOMÁS E “A FIGUEIRA E A INVASÃO FRANCEZA”


A segunda metade do século XIX, período que viu crescer e viver Pedro Fernandes Thomás, foi, em Portugal e na Figueira, de grande riqueza histórica.
O país vivia um período de estabilidade política, marcada pelo “Rotatitivismo” partidário e assistiu a um crescimento económico salutar, caracterizado sobretudo por uma revolução ao nível dos transportes. Chamou-se-lhe o período da “Regeneração”.
Mas foi acima de tudo na cultura que esta época mais floresceu; basta atentarmos nos nomes de alguns escritores e pensadores de então para nos impressionarmos: Camilo, Eça, Oliveira Martins, Gomes Leal, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, Antero de Quental, Teófilo Braga, Sampaio Bruno e Leite de Vasconcelos, entre outros. Foi a época da “Questão Coimbrã” e das célebres “Conferências do Casino” e foi um tempo de surgimento de grandes marcos na imprensa: “O Mundo”, “O Século”, “O Primeiro de Janeiro”, a “Voz do Operário” e as revistas “Lusitana” e “Ilustração Portuguesa”.
Também na Figueira este período foi áureo. Desenvolveu-se a indústria (fábricas do Vidro e da Cerâmica), fez-se grandes obras no porto, rasgou-se a ligação por estrada a Coimbra e a Leiria, abriu-se a linha da Beira Alta e do Oeste, construiu-se o mercado e iniciou-se o abastecimento de água e a iluminação pública.
Ao nível da cultura a lista é também prodigiosa: construiu-se o Theatro Príncipe, a actual sede da Assembleia Figueirense, o teatro Saraiva de Carvalho, o Museu, o Ginásio, a Naval, a Dez de Agosto e já no início do século XX, os teatros do Caras Direitas e o Trindade; nesta altura também foi lançado o jornal “O Figueirense” (1863).
Em suma, a Figueira mostrava uma classe burguesa pujante, dinâmica e com capacidade de afirmação no contexto nacional.

Pedro Fernandes Thomás viveu, pois, num contexto de enorme riqueza histórico-cultural, dir-se-ia mesmo num período muito interessante da história portuguesa e da Figueira da Foz. O investigador teve ainda o privilégio de partilhar o seu tempo com uma interessante plêiade de homens figueirenses: Santos Rocha, Acácio Antunes, Goltz de Carvalho, João Costa, Francisco Lopes Guimarães e Fernando Augusto Soares, entre outros. A geração que se seguiu, e com a qual certamente conviveu, foi também uma geração rica em personalidades que pela sua actividade marcaram e se distinguiram na vida pública: Elói do Amaral, João de Barros, Salinas Calado, Cristina Torres, Santiago Prezado, Cardoso Marta, Maurício Pinto, Manuel dos Santos, António Piedade, Joaquim de Carvalho, Raimundo Esteves e João de Oliveira Coelho.
A “A FIGUEIRA E A INVASÃO FRANCEZA, notas e documentos” foi editada em 1910. Todos sabem que esta é a data da implantação da República. Era um tempo marcado por dois sentimentos colectivos fortes: o patriotismo e o anti-clericalismo.
Por aqui se compreende como em 1910, uma obra que relatasse a oposição ao invasor estrangeiro encontrava correspondência na exaltação do sentimento pátrio. A data justificava-a, pois em 1908 assinalara-se o centenário daquelas invasões, mas o momento era propício. Era também pertinente associar ao espírito patriótico o espírito liberal de alguns clérigos, como era o caso de Pister e Andrade, razão porque um dos capítulos da obra lhe faz menção, assim como à sua obra poética. De resto, as outras partes da obra, como o documento que atesta o oferecimento de um refresco às tropas inglesas por parte dos negociantes de Coimbra, ou a ode liberal de José Joaquim de Figueiredo intitulada “A Paz de Lysia”, escrita por ocasião da inauguração da iluminação pública na Figueira, reforçam a ideia do triunfo (tardio) do liberalismo e colam a Figueira da Foz a esse movimento e seu ideário.

Na parte relativa aos acontecimentos históricos que se prendem com a invasão francesa, Pedro Fernandes Thomás dá nota pormenorizada dos momentos vivenciados na Figueira, naquilo que se chamou a primeira, segunda e terceira invasão.
Ficamos a conhecer as tomadas de posição públicas da Câmara e das populações; A obra é profusa na inserção de actas.
Conhecemos os nomes dos que abriram mão do seu pecúlio para ajudar na heróica resistência ao invasor (e os que tiveram que pagar aos franceses o seu esforço de guerra - À Figueira coube então a entrega de 180 mil reis e ao erário figueirense um empréstimo de 144 mil réis, destinado a reparações no forte de Stª Catarina, do qual nunca foi ressarcido).
Conhecemos, ao pormenor, a intervenção do esquadrão académico que, acompanhado de populares, tomou ao ocupante o forte de Stª Catarina (descrição feita por Zagalo da tomada do forte publicado no nº 5 do “Minerva Lusitana”).
Acompanhamos o pavor das gentes e os seus receios, quando após a expulsão dos franceses se colocou a hipótese do seu regresso e ficámos a saber como se recebeu sua eminência, o bispo de Leiria, que procurou acolhimento no Convento de Santo António. Conhecemos os nomes dos que compuseram a Junta de Governo da Vila e as medidas tomadas para protecção da cidade, bem como as que suportaram o desembarque dos ingleses.
Assistimos ao desembarque dos ingleses, primeiro em Buarcos (a nau Alfredo) e depois, no Cabedelo. Percebemos as estratégias em jogo no enfrentamento do invasor, com a posição de Wellington a prevalecer.

Na segunda invasão tomamos nota da resistência das populações à saída do governador José Correa Soares, bem como a abertura de donativos dos locais ao esforço de protecção da vila.

Na terceira invasão, de todas a que mais represálias teve sobre as populações, conhecemos o drama de Mariana Fernandes Thomás (irmã de Manuel) que dá nota, numa carta pormenorizada dirigida ao seu irmão, da forma como a sua família e ela própria foram vilipendiados pelo invasor e despojados dos seus bens e da sua liberdade.
Vivemos o drama das populações que ora debandam para os arredores, ora acorrem à vila.
Conhecemos as más condições em que vivem, o grassar da fome e das epidemias. Percebemos as preocupações da Câmara que se desdobrava na busca de alimentos e que depois teve que se preocupar com os mortos (passam a ser enterrados na cerca do convento de Santo António; nasceu assim, digamos, o cemitério Setentrional).
Tomámos nota, finalmente, da forma como se festejou, na Figueira e em Lavos, a expulsão das tropas francesas (16 de Abril de 1811).

A obra descreve ainda como se assinalou a efeméride nas comemorações do primeiro centenário. Um enorme e participado cortejo, envolvendo as escolas, as filarmónicas, as associações recreativas e profissionais, polícias e bombeiros e representantes de entidades várias desfilaram dos paços do concelho ao forte, onde houve missa e se assinalaram salvas de artilharia. Foi descerrada a lápide colocada no forte e de regresso aos paços do município onde se celebrou a sessão solene com vários discursos. Reza a obra que,
“O salão nobre, corredores e escadas estavam repletas de pessoas de todas as condições sociais. No vasto salão tudo quanto de distinto e notável existia na Figueira e arredores, e grande número de formosas e gentis damas”.

(Texto que serviu de base à apresentação da obra aquando da sua reedição – palácio Sotto Maior, 1 de Agosto).

A FIGUEIRA E A INVASÃO FRANCEZA



Republicação da obra, editada em 1910, da autoria de Pedro Fernandes Thomás. Constitui um relato interessante do que se passou na Figueira da Foz aquando da invasão francesa (as três), abordando as tomadas de posição dos poderes públicos, a retoma do forte por Zagalo, os desembarques das tropas, os medos e receios das populações, os ataques de que foram vítimas. OS documentos que acompanham são, também, de muito interesse.
Referência ainda, na obra, ao pároco Pister e Andrade (co-adjutor do Pároco de Lavos que recolheu Wellesley em sua casa) e ao seu poema "Wellingtaida", bem como às comemorações do primeiro centenário da invasão e ao poema "A Paz de Lysia" de José Figueiredo.
Uma (re)edição do livreiro Miguel Carvalho, apaixonado da história da Figueira e fiel depositário de muitas e boas obras sobre esta terra. Pelo que nos diz, depois deste e do "Folclore Pornográfico" editado no ano passado, as reedições vão continuar.

29 de jul. de 2008

WELESLEY DESEMBARCA


No dia 1 começou o desembarque nas praias do sul (Lavos) bastante contrariado por uma forte ventania do norte, tão frequente na nossa costa n`aquella época do anno.
Todos os barcos capazes de aguentar o mar (lanchas, barcos de pesca do alto, etc.) foram empregues no transporte de tropas, tendo prestado grandes serviços a galeota dinamarqueza Elisabeth, ancorada no nosso porto.
O procurador do concelho, coadjuvado por Domingos Lopes da Silva, procurava assegurar os transportes das tropas, embargando os carros e cavalgaduras que se podiam encontrar, mandando construir grandes mangedouras em Lavos para onde foram enviados pastos e palha. Do Porto remeteu a Junta suprema ao General Moore, 200 montadas para o serviço do exército, e 4 cavallos para o serviço do general.
Para interprete dos inglezes e para os acompanhar, nomeou a Junta António José da Silva.
O general Welesley hospedou-se em Lavos, em casa do parocho, que então era o padre António de Macedo Pereira da Horta.
(…) Em 5 entra em Coimbra, no meio do maior enthusiasmo, o general Bernardim Freire de Andrade, que consegue reunir ali mais de 1500 homens de tropa de linha(…)
Em 7, Welesley vai a Montemor-o-velho conferenciar com os generaes Bernardim Freire e Manuel Pinto Bacellar.
Os generaes portuguezes querem que as operações da guerra se façam no interior da Beira (…). Welesley, porém, recusa-se terminantemente a abandonar o litoral na sua marcha; considera a esquadra como a sua base de operações (…).
Tal foi o resultado da conferência de Montemor, regressando depois d`ella á Figueira, e partindo em seguida com as suas tropas e a pequena divisão portugueza em direcção a Lisboa.

Ult.op.cit.

24 de jul. de 2008

Mr BLIGH DESEMBARCOU EM BUARCOS



(…)destacou-se da esquadra a nau Alfredo, do commando do capitão Bligh, que desembarcou em Buarcos com alguma tropa.
Não havendo onde aquartellar esta força mandou a Junta immediatamente construir no Pinhal oito barracões de madeira, e uma cosinha para preparar os alimentos.
Mr. Bligh demourou-se algum tempo na Figueira, indo pelo rio até Montemor, no barco de Lourenço Gonçalves.
A fim de prevenir alguma surpreza do inimigo, estabeleceram-se palissadas nos sítios do Pinhal e Lamas, principaes entradas da povoação, que foram defendidas por algumas peças de artilharia; a guarnição do forte foi reforçada, reparadas as principaes obras de defeza, e provido das competentes munições.
As povoações vizinhas da Figueira apressaram-se a mandar os soccorros que puderam, vindo de Maiorca uma companhia de ordenanças com 51 homens, das Alhadas 24, de Mira 92, da Carapinheira 81, de Arazede 68, de Liceia 15. Em Buarcos organisou-se também uma companhia com 74 homens, sendo alguns da Figueira, perfazendo tudo um total de mais de 400 ordenanças. De Peniche vieram vinte e cinco soldados de artilharia, e de outras localidades alguns soldados de infantaria e cavallaria.
(…) Foram enviadas diversas escoltas ao sul do Mondego, a fim de observarem os movimentos do inimigo; d`uma d` elas era comandante José Fernandes Thomaz. Estabeleceu-se também um serviço de posta a cavallo dirigido por João António Ferreira de Sá.
A esquadra ingleza conservava-se á vista da Figueira, aguardando o ensejo favorável de operar o desembarque das tropas que só poude começar a fazer-se no dia 1 de Agosto. A este tempo a Junta tinha já encarregado o mestre Ricardo José Monteiro, de construir algumas barracas, destinadas a alojar as tropas inglezas durante a sua permanência na Figueira

Retirado de A Figueira e a invasão franceza, notas e documentos de Pedro Fernandes Thomás, Figueira, 1910

16 de jul. de 2008

MÁRIO AUGUSTO, PINTOR

Representado nos grandes museus nacionais, Mário Augusto possui um incontestável valor na pintura portuguesa.
Nascido nas Alhadas (23.07.1895), cursou Belas Artes em Lisboa e no Porto, onde concluiu o curso geral. Foi bolseiro e esteve em vários países, como a França, a Inglaterra, a Bélgica e Espanha. Foi mestre de pintura na escola António Arroio e na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Não deixou de pintar as paisagens, lugares e personagens da sua terra e arredores, estando muito divulgado o seu quadro em que retrata “O Latoeiro”. Faleceu em Coimbra, em Agosto de 1941. Há poucos anos tornou-se patrono da escola básica 2/3 de Alhadas.

Imagem (Raparigas das Alhadas, 1930) retirada de galeria-de-mario-augusto.blogspot.com

12 de jul. de 2008

A GREVE DOS BACALHOEIROS



Corria a primavera de 1937, altura em que se começava a preparar a campanha do Bacalhau, quando os pescadores do “fiel amigo” decidiram que não iriam acatar as ordens do governo. Estas traduziam-se, desde 1935, na entrega da responsabilidade pelo recrutamento e regulação dos acordos de trabalho dos pescadores ao Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau. A formalização da matrícula consistia na aceitação das condições de trabalho, negociadas entre os armadores e o estado. Em síntese, a procura e escolha do navio em que o pescador trabalhava deixava de ser livre.

Foi na Figueira da Foz e em Buarcos que a greve mais se fez sentir; os pescadores recusavam matricular-se. Na altura, a Figueira era o segundo maior porto bacalhoeiro em número de navios e o maior em recrutamento de homens para a pesca. Só em 1936 embarcaram 500 homens de Buarcos e 300 das restantes freguesias, grande parte da Cova e Gala.

A importância do movimento chamou a atenção do Diário de Lisboa que fez uma reportagem em Buarcos sobre a greve, intitulada “Pesca do bacalhau ameaçada”.

Além da recusa da matrícula, os pescadores de Buarcos – que possuíam sindicato – reivindicavam um aumento de 500 escudos na soldada fixa. Com o andar do tempo os armadores pressionavam o governo e os comerciantes da Figueira apelaram ao Ministério da Marinha para resolver a crise. Assim foi. Começaram a ser presos pescadores e um grupo que foi preso e que seguia sob escolta da capitania da Figueira para Buarcos teve o apoio da multidão que saiu à rua para apedrejar a polícia. As crónicas rezam que houve tiros e coronhadas.

A repressão fez ceder os pescadores. O Ministro da Marinha entretanto fazia sair um diploma em cujo preâmbulo se lia: “Verifica-se que para a campanha de 1937 não se apresentaram à matrícula pescadores em número suficiente para que nela possam tomar parte todos os navios que constituem a frota bacalhoeira, incluindo os que se estão acabando de construir. O interesse da nação exige porém que saiam à pesca todas as unidades em condições de o fazer”.

No dia do embarque, 15 de Maio de 1937, muitos pescadores foram presos e colocados a bordo pela polícia. Rebelo de Andrade dava a sentença: “O interesse nacional exige que os navios saiam; o governo, ponderadas todas as circunstâncias, resolveu mobilizar os pescadores; esta é a última palavra do governo, que assume a responsabilidade desta medida e garantirá os meios de a fazer executar”.

Seguiu-se de perto o artigo de Álvaro Garrido, Os bacalhoeiros em revolta: a «greve» de 1937, in Análise Social, vol. XXXVII



29 de jun. de 2008

ZAGALO E O FORTE

Passam duzentos anos da tomada do forte de Stª Catarina aos franceses.
veja-se o post de Maio de 2005 "A Tomada do forte de Stº Catarina".

23 de jun. de 2008

A BATOTA AMENA



Mesmo cá de longe eu estou perto; estou a ver o desvairamento com que aí na Figueira se joga a batota, sob as vistas complacentes da autoridade que neste ponto não cumpre a lei nem as determinações superiores. Estou a ver o suspiro de alívio de mesiurs, os batoteiros, donos da nossa encantadora praia, onipotentes senhores, que teem a mão na policia e o administrador do concelho e falam de papo, entricheirados nas casas de vício e de exploração que são os chamados Casino Peninsular e cafés Europa e Hespanhol; suspiro de alívio por julgarem ter-se visto livres de quem lhes põe a calva á mostra, interpretando o sentir de toda a gente honesta e trabalhadora, que vê no jogo um prejuízo para os seus legítimos interesses.
Mas enganam-se os cavalheiros da indústria do jogo. Eu cá estou. (…)
Tivessem as autoridades a noção simples do dever que são obrigadas a cumprir, e há muito que a nossa praia estaria limpa d`esses senhores, que vassouram para a burra dos patrões avaros e rapaces o que a ingenuidade e o vício atiram para cima do tentador pano verde. E limpa também d`esses mesmos patrões que mal sabem ler e escrever, cuja origem e procedência é quasi sempre incerta, mas que passeiam a sua sobranceria, acotovelando com desprezo as pessoas que ganham honradamente a sua v ida.
(…)
Fechem-se as batotas! Cumpra-se a lei…

António Amargo, O Figueirense, 10 de Setembro de 1922

13 de jun. de 2008

REDONDO JÚNIOR



Não, não dormi com Barrault na cama de Volpone. Mas quantas vezes, quando o Teatro era para mim uma intimidade, me surpreenderam na penumbra gelada do palco, vazia de mistérios e de sonhos, a povoar a cena com os fantasmas das minhas ilusões! Eu também era dos que amavam o Teatro como a sua própria casa. É uma doença de infância irremediável e incurável – mas uma doença de evasão. Há quem atribua algum desencanto do público ao facto de já não se ligar importância, como noutros tempos, ao é proibida a entrada a pessoas estranhas ao teatro. É possível. Quanto a mim, passei a amar mais o Teatro desde que comecei a conhecê-lo mais intimamente – até ao dia das grandes desilusões. Que o amor ao Teatro também se conquista, como as mulheres, com o espírito e os sentidos. É preciso compreendê-lo – ou tentar – e senti-lo, mas senti-lo na carne, por contacto, sem que o amor nunca se realiza. Por isso eu gostava dos palcos embrulhados na sua penumbra gelada, vazios de mistérios e de sonhos e recriá-los à medida dos fantasmas das minhas ilusões.

Redondo Júnior, (1914-1991) jornalista, teatrólogo, dramaturgo, encenador, tradutor, crítico, in "A Juventude pode salvar o teatro"

10 de jun. de 2008

O VELHO NAVIO


Vai para o Mar!
Pois só o Mar, que é traiçoeiro, é que não mente;
-Floresce em ilhas para o náufrago impaciente
E para o sonho que deseja repousar.
Simples miragem? O que importa se a miragem
Nos trouxe a febre de partir e de aportar,
A Primavera renascente da viagem!...
Deixa o passado junto ao cais, ó meu navio!
- Soluça lento o fado triste nas guitarras,
Há beijos quentes nas tabernas, sobre o rio…
Vai para o largo, para o Mar, quebra as amarras,
Não oiças mais o seu encanto doentio!
Mas, ao partir, para galgar com rapidez
A noite e o espaço,
Atira ao fundo com teu lastro de amargura, Com o teu lastro de agonia e de cansaço,- De vida morta, de vida impura –
E a proa em riste, entre gaivotas a cantar,
Vai para o Mar!

João de Barros( 1881-1960)

7 de jun. de 2008

O Maio

Era uma ocasião um homem que tinha uma mulher muito preguiçosa, mas que se queria fazer passar por muito trabalhadora. Gabava-se ella de ser muito boa curadeira de linho e de estopa, e quando o marido chegava a casa costumava dizer sempre:

Maçarócas ao cortiço
Já hoje lá vão sete!

O homem pedia-lhe que lhas deixasse ver mas a mulher dizia-lhe que estava a chegar Maio, e antão as veria curadas.
Efectivamente, chegou o mês de Maio, e a mulher lá foi co`as outras ao rio, mas em vez das meadas, que não tinha, começou com grande estardalhaço a lavar umas esteiras que levava.
Foram contar a coisa ao marido, que lh`apareceu vestido de Maio, cheio de flores, c`um grande chapéu na cabeça, e um cacete nas unhas.

Chegou-se ao pé da mulher e disse-lhe c`uma voz soturna:

Eu sou o Maio curão
Curo meadas e esteiras não!

E ergueu logo o cacete p`rá mulher que estava espantada a vê-lo, e deu, deu, até o diabo dizer basta.
Voltaram p`ra casa, e diz-lhe ele:
-Prepara-te que temos de ir amanhan à feira.
Mas a mulhersinha estava sem um trapo que vestisse, porque não tinha fiado um fio durante todo o ano.
Ele antão emprestou-lhe um capote, meteram-se no carro, e lá foram p`rá feira.
Chegados lá, o homem, que queria pregar partida á mulher, quando estavam no ponto de maior concorrência, arrincou-lhe o capote das costas, e, como era a única coisa qu`ella levava vestida, ficou como a mai a deitou a este mundo.
Ninguém poi na sua ideia a algazarra medonha que ali s`ergueu; e tão grande foi ella que o marido teve que meter a desgraçada a toda a pressa no carro e trazê-la p`ra casa.
Isto serviu-lhe de lição, de modos que dahi p`ró futuro já fiava a valer; e quando alguem lhe dissesse que fiasse mais devagar porque algum fio era grosso e outro fino, ella respondia:

Grosso e delgado,
Tudo cobre o rabo!

Cardoso Marta e Augusto Pinto, Folclore da Figueira da Foz, (1913)

9 de mai. de 2008

AUTO DE ACLAMAÇÃO de D. MARIA II



Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1834 aos 8 dias do mez de Maio do dito anno n`esta villa da Figueira da Foz e casas da câmara d`ella onde se achava reunido o clero, nobreza e povo d`esta mesma villa, depois de eleito por unânime aclamação a câmara interina composta do juiz José da Costa Diniz, dos vereadores o Bacharel José Tavares de Goês Nobre, João Fernandes Thomaz, Francisco Luiz Affonso da Costa e do procurador Joaquim Malheiro de Mello, e dos mais empregados publicos, e povo abaixo assignado, unânime, expontanea e livremente por elles proclamado o Legitimo Governo da Nossa Idolatrada Rainha, A Senhora Donna Maria Segunda, cujo excellso governo, athé agora se achava interrompido, mas nunca esquecido dos honrados Habitantes d`esta villa. Embora os inimigos das liberdades dos povos tivessem feito calar em seus corações sentimentos que agora tão livremente exprimem mas nunca foram capazes de os fazerem mudar, nunca decerto os inimigos se attreverão a manchar o nome d`esta Villa tão decantada por elles mesmos, como o centro do liberalismo, com um corpo organizado em forma de batalhão nunca decerto o nome da Figueira luzia nas fileiras do usurpador; seus habitantes são mais nobres e indignos de mancharem-se na perfídia. Os nobres esforços, o Patriotismo inibitavil do Nosso Augusto Regente, O Senhor Duque de Bragança, não deixando de ser recordado por nós, não podia porem soltar-se as nossas vozes livremente; Hoje pois ellas se ellevão aos céus com a expansão mais viva da nossa gratidão, e n`este dia tão allegre para os fieis Portugueses Figueirenses, elles se juntarão pela maneira exposta, e mandarão fazer este auto de aclamação da Mesma Augusta Senhora Donna Maria Segunda, Única Legitima Rainha d`Estes reinos e assinarão em câmara e jurarão observar a própria custa de suas vidas e sendo levantados os Vivas a mesma Augusta Senhora, a Carta Constitucional e ao regente d`estes Reinos foram correspondidos com enthusiasmo supperior a todo o ellogio de que se fez o presente auto que o juiz, vereadores e mais clero, Nobreza e Povo assignarão comigo, Francisco José Ferreira d`Araújo, escrivão interino da mesma câmara, o escrevi e assignei.

Cit. Por José Jardim, Notas d`um Figueirense, in Revista da Figueira, nº 1, 1917 com a menção: “Transcripto no livro nº 5 dos actos, fls 145 v.146, 147”.

25 de abr. de 2008

FIGUEIRA DA FOZ - 25 DE ABRIL DE 1974



-Em 23 de Abril de 74 o Capitão Dinis de Almeida deslocou-se a Lisboa a fim de se apresentar no tribunal onde fora chamado. À tarde chegou à Figueira da Foz o Capitão Pizarro que me expôs a sua situação. A Companhia com que contava encontrava-se em exercícios no campo não me podendo garantir a sua arrancada. Caso lhe fosse possível poderíamos contar com ele. Se não pudesse arrancar com a coluna viria só, juntar-se a nós. Ninguém até esta altura, dentro do Aquartelamento do R.A.P. 3, estava a par do que se planeava. O Capitão Dinis de Almeida havia Iniciado uma campanha de mentalização cuidada entre os seus recrutas. Recordo, por exemplo os versos de António Aleixo que em uníssono ele encorajava a cantar:
«Vós que lá do vosso Império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos, que pode o povo
Qu'rer um mundo novo e sério»

«Que importa perder a vida
Em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?»

No dia 25 de Abril à hora prevista, é tomado o Regimento após terem sido avisados os camaradas da E.C.S. que lá fora aguardavam desesperados desde a 1 hora. Eram 3 horas e 40 minutos chega a altura de Aveiro. Chegava antes da hora prevista e Isso ía alterar os planos por nós traçados anteriormente. O movimento gerado la acordar o Cor. Aires de Figueiredo e o Major Malaquias que nesta altura ainda não sabíamos que não se encontravam a dormir no quartel. Imediatamente o Cap. Diniz de Almeida se dirigiu à messe de oficiais. Já o comandante se levantara e se dirigia para o quartel. Foi Intimado a render-se tendo então sido detido. Teve que se aguardar a saída dos presos da prisão do quartel e limpeza da mesma para nela se meter provisoriamente o Cor. Figueiredo. Logo que foi possível foi transferido para o seu quarto dando-lhe toda a liberdade que na altura era aconselhável. Quando deu entrada na prisão apresentou-me voluntariamente uma pistola que trazia no bolso. - Todos os oficiais e sargentos milicianos bem como os praças presentes no quartel aderiram imediatamente e se colocaram inteiramente à nossa disposição.
A coluna de Aveiro entrou para o quartel aguardando a preparação da coluna do R.A.P. 3 e a chegada da coluna do C.I.C.A 2 e do R.1. 14. Entretanto assumia o Comando do R.A.P. 3 o Capitão Ferreira da Cal, como oficial mais antigo, que juntamente com o Cap. Moço e Ten. Garcia haviam vindo de Águeda. A coluna foi formada rapidamente; a colaboração de todos foi admirável. Do R.A.P. 3 saíram 6 bocas de fogo 10,5 cerca de 300 homens transportados em 40 viaturas. A coluna do C.I.C.A. 2 entrou no R.A.P. 3 pelas 6 horas. Esperava-se pela do R.1. 14 que não chegara ainda. Pelas 7 horas saiu a coluna em direcção a Leiria e um quarto de hora depois aparecia do R.1. 14 que se lhe foi juntar no percurso.
Constituiu-se assim o -Agrupamento NOVEMBER- com cerca de 60 viaturas e mais de 500 homens. - A partir desta altura a vida da unidade decorreu normalmente sem os oficiais superiores que entretanto ficaram em casa bem como a grande maioria dos restantes oficiais e sargentos do O.P. A porta de armas manteve-se fechada. O pessoal que seguiu na coluna com os objectivos de Peniche e Lisboa permaneceu na capital sendo substituído em 27/4 por uma outra bateria que continuou sob o comando do Cap. Dínlz de Almeida. - Destacava-se além da grande actividade desenvolvida pelo Cap. Diniz de Almeida que deverá ser analisada a nível superior, a dedicação que o aspirante Mil. Matos pôs nas tarefas que lhe confiei sendo de uma voluntariedade admissível e digna de ser realçada sua actividade teve grande Influência para o excelente desencadeamento da manobre que se Iniciou na Figueira da Foz. Poderei ainda mencionar o Asp. Mil. Borges pela excelente colaboração que me prestou. O 1º cabo Mil. Vitorino foi também muito Influente na boa concretização dos pormenores prontificando-se a dormir sempre no quartel desde que eu lho ordenei embora tivesse quarto fora. Poderia mencionar ainda o nome de todos os militares que comigo colaboraram nos preparativos da coluna e ainda os que abnegadamente fizeram alguns serviços seguidos sem nunca por Isso terem manifestado o mais leve desagrado.

Figueira da Foz, 1 de Maio de 1974.
FAUSTO ALMEIDA PEREIRA,
Cap. de Artilharia

29 de mar. de 2008

A FALÊNCIA DO COSTA E Cª (II)



A cidade que ele banhava não era bonita nem feia. Era uma cidade vulgar de província, término duma linha de caminho de ferro com o seu pequeno porto de mar e a sua Indústria de pesca, bastante comprometida desde a recente falência do Banco.
(…) Meses atrás, de surpresa, o Banco do pai suspendera os pagamentos. Um escândalo que atordoara a cidade e só por pouco a não deixara em farrapos. A inspecção acusada de negligência. E todos aqueles avultados fundos que alimentavam, como um sangue fértil e generoso, o corpo da indústria e do comércio locais, ali estavam retidos (e estariam, realmente?!) à espera que o Governo ordenasse um inquérito.
Umas após outras, deputações de homens públicos tinham-se deslocado a Lisboa a avistar-se com o Ministro. Os jornais publicavam na primeira página os resultados das conferências. Eram pessimistas umas vezes; outras, porém, não hesitavam, em garantir que tudo voltaria em breve à normalidade.
A população acolhera o Comissário do Governo com angústia. Mas também com alguma esperança. E na antiquíssima casa bancária Spratley e Cª, em frente ao cais, peritos trabalhavam até altas horas da noite, por detrás de vidros foscos, tentando apurar responsabilidades e até que ponto seria possível, mediante operações de emergência, salvar os depositantes da ruína eminente.
O pânico estabelecera-se entretanto. À desconfiança dos primeiros dias, seguiu-se a paralisação de algumas indústrias. Uma fábrica de vidros fechou. As minhas de hulha, nas faldas da serra, reduziram a metade o período de exploração. Depois, hoje um, amanhã outro, vários estabelecimentos comerciais, alguns quase seculares, abriram falência. Inexoravelmente, à vista de todos, a máquina económica desmantelava-se em mil pedaços inúteis.

Luís Cajão, Um dia fora do mundo, Ed. Minerva, 1956

A FALÊNCIA DO COSTA E Cª (I)

*Manda o Governo da República Portuguesa pelo Ministro das Finanças, nos termos e com aplicação dos artigos 11º, 12º, 56° e 58° do Decreto-Lei nº 30698, de 27 de Agosto de 1940, e 1137.° e 1324.° do Código de Processo Civi1, visto o estabelecimento bancário Costa & Cª, com sede na Figueira da Foz, não ter podido restabelecer, dentro do prazo fixado no artigo 1° daquele diploma, as condições normais do seu funcionamento: 1.° seja retirada ao mencionado estabeleci­mento a autorização de exercício do comércio bancário, considerando-se, portanto, o mesmo em estado de falência, bem como os seus sócios, João José de Figueiredo Costa, Ana Dias da Silva Costa e João José da Silva Costa, aquele falecido no período a que se refere o dito artigo 1137; 2º, se proceda, consequentemente, à liquidação imediata dos respectivos patrimónios, com observância das disposições de direito, especialmente as do decreto-lei.

*Retirado de Belarmino Pedro, Dez anos de Quixotismo, Ed. A Voz da Figueira, 1964

26 de mar. de 2008

TAVAREDE, GRACIOSO PORTO DE MAR

Tavarede, gracioso pôrto de mar aberto na embocadura do rio Alvo, gozara outrora de relativa prosperidade, graças a excelente situação: os exportadores da província florestal e vinícola que marginava as águas do Alvo, tinham nêle ótima saída para a mar. Então, nesses tempos felizes, raro era o dia em que o Espadarte, o pequenino rebocador da pôrto, empenachado de fumo, não sulcasse as águas azues do Alvo, para levar ao mar alto os veleiros atestados de pipas ou toros de pinheiro. Esses tempos tinham passado. O asso­reamento crescente do rio afugentara as embar­cações. Tavarede era agora uma cidadezinha tranquila, onde os homens caminhavam sem pressa, ao longo dos cais abandonados ao grasnido das gaivotas poisadas, em bandos espenujantes, na orla dos grandes areais do rio. O movimento do pôrto estava confinado a algumas traineiras que abasteciam de sardinha a região, e, na época própria, à faina do bacalhau para o que a cidade mantinha uma pequena frota. 0 comércio local era escasso vivendo a melhor parte da população à custa dos rendimentos de bens amassados pelos que tinham tido a dita de viver no tempo de prosperidade do pôrto. Era o caso da família de Antu­nes Pinto. Quem passasse no largo da Alfândega, e relanceasse os olhos à acanhada loja de papelaria, sôbre cujas portas pendia taboleta com o nome dêste senhor, ficaria crendo que o seu proprietá­rio não passava dum pobre comerciante. Contudo, em Tavarede, Antunes Pinto gozava fama de ricaço. Seus antepassados haviam enriquecido, dizia-se, exportando moeda falsa para o Brasil no oco de imagens devotas.

João Gaspar Simões, Uma história de província, Amores Infelizes, Presença, Coimbra, 1934

14 de mar. de 2008

A FILARMÓNICA DO PAIÃO



Livro de Eurico Silva versando a história da mais que centenária Filarmónica Paionense, fundada em 1858 pelo Dr. Leonel Seabra. O, na altura, Monte-pio Philarmónico visava “melhorar a sorte dos associados” e contribuir para a sua “moralisação” e sobre ele pesava o ditame real de que este beneplácito lhe seria retirado se e “Quando se desvie dos fins, para que é instituída, não cumpra fielmente os seus estatutos ou deixe d`enviar anualmente á Direção geral do Commercio e Industria o relatório e contas da sua gerência”.
Os estatutos foram aprovados por decreto de 30 de Setembro de 1868.