29 de out. de 2008

JOAQUIM DE CARVALHO

Lembro-me, como se fosse ontem, das lições que me dava quando, por volta das 17 horas, saía da Biblioteca da Universidade. Com o seu sorriso largo e franco, acolhia-me de braços abertos, convidando-me a passear com ele pelo pateo da velha Alma Mater: só se detinha para admirar a paisagem suave do Mondego e dos campos circundantes.
(…) Recordo-me de que, certa tarde, tivemos de aguardar em Alfarelos o comboio para Coimbra. Passeando a todo o comprimento da estação, falou-me dos seus trabalhos, dos amigos e colegas (…).
Em 1949 encontrei-me em Roma, no mês de Junho, com Cabral de Moncada. Pedi-lhe que me indicasse uma boa síntese do pensamento religioso, filosófico e jurídico do século XVIII.. Aconselhou-me a consultar Joaquim de Carvalho “Verá que ele vai resolver o seu problema. Carvalho sabe tudo”.
Ele foi, porventura, o mais lúcido investigador da nossa civilização. Não obstante, um silêncio imerecido tem passado sobre o seu nome e os seus escritos. (…) Não obstante todos os seus créditos, o nome de Joaquim de Carvalho passou ao limbo dos estudiosos ignorados. Tratar-se-á do esquecimento que geralmente ocorre, mesmo no caso de figuras gigantescas da história intelectual, nas três ou quatro décadas que se seguem à sua morte? Como quer que seja, Joaquim de Carvalho não merecia este esquecimento.

José Pina Martins, 1978, prefácio à Obra Completa de Joaquim de Carvalho

27 de out. de 2008

12 de out. de 2008

JOAQUIM DE CARVALHO E O PATRIOTISMO


"A grande maioria dos portugueses vive o amor pátrio como dado intuitivo e imediato, identificando-o normalmente com o amor à terra em que nasceram e onde lhes decorreu a primeira educação. Assim considerado, este amor pátrio gera um patriotismo localista e constitutivamente emotivo. O seu horizonte físico mal vai além da aldeia ou da vila natal e o seu horizonte moral é definido pela constelação de sentimentos que tem por centro a casa familiar. Constitui a forma mais simples, tenaz e generalizada, da fenomenologia do nosso sentimento patriótico, sendo suas notas características a visão estática e a saudade, por assim dizer vital.
Se não erro, é o amor pátrio assim entendido, ou melhor assim sentido, que explica em grande parte a constituição da nossa vida civil com base no agregado familiar, o desinteresse pela vida pública como actividade de primeiro plano, e a instabilidade de todas as organizações de significação estritamente política".

Joaquim de Carvalho, extracto de "Compleição do Patriotismo Português", discurso proferido no Rio de Janeiro, em 10 de Junho de 1953. Na foto, o ilustre pensador na conferência.
Assinala-se este mês cinquenta anos da morte de Joaquim de Carvalho.