13 de abr. de 2009

OS ESTRAGOS DO MAR


N`estas circunstancias surgira uma nova e imperiosa necessidade — a da defeza contra o mar; e as camaras, instadas então pelos clamores dos habitantes das duas villas, viram-se obrigadas a pedirem outra vez a continuação das muralhas, juntando ao seu pedido não só a copia do alvará que em 1718 fora exigida pelo governador da província, mas ainda a do Mandado que fora dirigido ao provedor da co-marca de Coimbra acerca dos rendimentos do real d'agua applicados aquella obra.
A exposição que ellas fizeram dos males que causava o mar merece ser aqui transcripta.. «E porque, diz a petição, de se não terem continuado as obras da dita fortificação ate se acabarem, como convinha, tem resultado as ditas villas e seus habitadores grande e consideravel damno na perda de muitas casas, que se tem arruinado com o impulso do mar que nas occasioes de maior tempestade Ihe entra por aquella parte aonde se não estendem as muralhas que se chegaram a fazer e ate estas estão humas arruinadas, como sao as do forte de Santa Catharina junto a Barra, outras ameaçando ruina, de forma que a ultima cortina das que fortificam as ditas villas se acha com uma grande rotura aberta agora de novo no principio d'este inverno pelo im­pulso do mesmo mar, que esta continuamente combatendo as ditas muralhas...»
D'aqui se ve que ao tempo da petição já Buarcos sofria d'essas catastrophes que nos ainda há pouco presenciamos na povoação da Praia, e que o remédio que então se pro-curava dar-lhes era a construcção de uma obra defensiva, a semelhança da que o governo ultimamente mandou levan-tar n'aquella povoacão.
Também se deduz do exposto que a linha de fortificações de Buarcos, começada no tempo de Joao 4.º, se estendia ate a barra da Figueira, comprehendendo assim o forte de Sancta Catharina.

Santos Rocha, Materiaes para a História da Figueira nos séculos XVII e XVIII