31 de jul. de 2004

FERNANDES TOMÁS, PATRIARCA DA LIBERDADE



Nasceu há 233 anos o mais ilustre de todos os figueirenses:

"Rua dos Tropeções, mais tarde Rua do Quebra-Costas (hoje rua 31 de Julho) esta a rua onde, por ironia toponímica, nasceu Manuel Fernandes Tomás, numa casa entretanto arrasada e que espreitava para a praça que hoje ostenta a sua figura de bronze em expressivo gesto".

"(...)Bacharel em 1790 (ingressou na universidade de Coimbra com 14 anos), formado em 1791", ano em que foi eleito almotacé do município da Figueira da Foz (fiscalização e policiamento da distribuição dos produtos alimentares). Em 1795 foi eleito vereador da Câmara, mandato que cumpriu por um ano.

Em 1801 ingressou na magistratura (em Arganil) e em 1804 foi nomeado superintendente das Alfândegas e dos Tabacos das comarcas de Aveiro, Coimbra e Leiria.

Em 1808, com o desembarque das tropas de Wellington, foi-lhe confiado o papel de Comissário em Chefe do Exército no distrito. Dele disse o general inglês ser “o homem de quem recebi mais assistência e serviço do que qualquer outro”.
Foi para Coimbra como Provedor da Comarca e em 1816 foi desembargador da Relação e Casa do Porto.

No Porto conheceu Ferreira Borges e foi um dos fundadores do Sinédrio. Com o pronunciamento militar de 24 de Agosto de 1820 redigiu o “Manifesto da Junta Provisional do Supremo Governo do Reino”. A 1 de Outubro, no 1º governo pós-revolução, foi Ministro dos Negócios do Reino e da Fazenda.

"Morreu a 19 de Novembro de 1822, pelas 11 horas da noite" por "inflamação intestinal crónica" ou "desordem crónica das vísceras". Morreu em "quase miséria" tendo sido criada, 10 dias antes do seu falecimento, uma comissão de beneficência para angariar fundos para a sua família.

"Não enlevava os ouvidos, nem arrastava os ânimos com as torrentes da eloquência. Persuadia ou desarreigava! A frase quase nua e correcta, toda luz e força, partia directo ao alvo e feria-o no centro. Revelando todo o pensamento detestava as ampliações retóricas e os artifícios supérfluos. Não ornava a verdade: dizia-a".(Rebelo da Silva)

Expressões entre aspas retiradas do livro de José Luís Cardoso, “Manuel Fernandes Tomás, Ensaio Histórico- Biográfico”, cadernos Municipais, 1983

28 de jul. de 2004

FIGUEIRA, 1721

Informação paroquial da Figueira da Foz do ano de 1721, escrita pelo súbdito do P. Melchior dos Reys

(…) Está fundada esta igreja em hum grande terreyro q. lhe serve de Adro, ou Semitério, não mto. alto junto à Fos do celebrado Rio Mondego, de cujo citio Se estam vendo não só as cristalinas agoas do dito Rio, q. com suas continuadas navegaçois fica sendo mais plausível o Seo agrado, mas também as crespas ondas do mar oceano, com cujas vistas fica o tal citio não só aprazível à vista dando recreaçam aos olhos mas tambél deleytavel pª a vivenda humana tendo da banda sul para regallo o notauel e popullozo lugar, ou villa ( como el Rey N. S. q. Ds. G. o Snr D. Joam 5º o tem em mtªas cartas q a alfandega delle tem vindo appelidado) da Figueyra, digo, da Fos do Mondego, popullozo em gente natural, e estrangrª de varias nasçõis q nelle fazem negº e por isso tam cellebrado.

He tradiçam tam antiquíssima q não há memória em contrario, e de secullo pª século se foi sempre conservando a tal memoria q a refferida Igrª e o seo principio foi Abbadia e esta do tempo dos Godos, e q entrando em Espanhas o poder dos Sarracenos não escapou a tal Igrª à fúria com que pretenderão destruillas asenhoreandosse dellas por tempo de 800 anos, pois no tal tempo foi a dita Igrª pellos referidos bárbaros arruinada, retirandosse dellas o Abade q entam nella existia pª partes donde pudesse com segurança escapar a vida, temendo o flagello cruel da morte e ahi passando athe q retirados os inhumanos, e carnisseyros lobos famintos de sangue catholico do tal citio tornou a elle o dito Abb. Com suas rendas, ou com as rendas de sua Abbadia reyedificou a refferida Igrª das ruínas em q. ficou posta, restaurandoa.

(…) Nesta Igr. não há relíquia alguma de q se possa dar nota nem sua freguesia tem capella ou ermida algua excepto em Villa Verde, no qual há duas capellas hua de S. Aleixo q os moradores instituíram por sua devoçam mas não se lembram do anno em q foi erecta, outra com o titullo do Snr. Do Monte grão que he atado à colluna, a qual instituhio Julliam Gonçalves e hoje admenistrador della o Rdº Pe Custodio Gonçalves Aranha nAl de Villa Verde.

(…) e não há nesta freguezia CAza de Misericórdia, hospital ou recolhimtº e só hum convento há com o titulo de S. António da Figrª de frades de S. Francisco recolletos e sogeytos à província de Portugal o qual foi fundado por Fr. António de Buarcos no anno de 1527.

(…) o refferido asima é o q achey, pude descobir e me consta, o q affirmo ser verdade e assim juro in verbo sacerdotis (…) e dou o Ldº Melchior dos Reys Cura q prezente sirvo na refferida Igrª de S. Julliam da Figueyra da Fos do Mondego, em os vinte e três dias do mês de MAyo do anno do Nascimtº de N. Snr. Jezus Christo de Mil Sete Centos e vinte e hum.

22 de jul. de 2004

OS FUNDADORES DO GINÁSIO



A foto ilustra a primeira direcção do Ginásio Clube Figueirense tirada em 1895. O Álbum Figueirense, de onde retirámos o boneco, salienta a acção "benemérita" que o clube vinha "exercendo há quarenta anos (a edição é de 1935) em vários sentidos, em que se salienta o da cultura física da juventude figueirense".

Os heróis da foto são Pedro Augusto Ferreira (Presidente,ao centro) Jorge Laidley (vice, à direita), José Camolino de Sousa (secretário, à esquerda). De pé, da direita para a esquerda, José Carlos da Silva Pinto (tesoureiro), Joaquim Alves Fernandes Águas, Manuel Fernandes Tomás e José Augusto Evangelista (vogais).

SOMBRIO E A SOMBRA


 
Passam, no próximo dia 29 de Julho, 110 anos do nascimento de António Esteves, prolífico criador literário que utilizava o nome de Carlos Sombrio.
 
Carlos Sombrio colaborou na imprensa local e regional, quer figueirense, quer de outras paragens, como "A Voz da Justiça", o "Álbum Figueirense", o "Notícias de Gouveia", a "Voz da Serra" de Ceia e na imprensa nacional, entre eles no "DN", n`"O Século", e no "Primeiro de Janeiro", entre outros.
 
Dedicou-se à crítica literária e à escrita tendo publicado "Sombras", "A Celebração do Centenário de Camilo na Figueira", "Instituto de Sangue" (Teatro) "Segredos", "Aguarelas da Beira", "Resignada", "Cartas Perdidas" e "Diálogos".
 
Um dos seus ex-libris, que aqui reproduzimos, representava o nobre pelourinho da Praça Velha e ostentava a divisa "Por minha terra", pois Sombrio era um indefectível bairrista.
 
A Figueira, como é óbvio, tem deixado Carlos Sombrio na sombra.

16 de jul. de 2004

A FUNDAÇÃO DA NAVAL

Do CORREIO DA FIGUEIRA de 3 de Maio de 1893, respiga-se
 

 
"ASSOCIAÇÃO NAVAL 1º DE MAIO
 
Acaba de fundar-se nesta cidade uma sociedade de rapazes artistas, que tomou por denominação a epígrafe acima.
Como início auspicioso do que ela promete, realizou no primeiro do corrente um passeio fluvial até Lares, e à noite efectuou uma animada reunião na antiga aula da Filarmónica Figueirense, na rua Direita do Monte.
Ontem, 2 de Maio, houve eleição da direcção, da qual foi nomeado prsidente o conhecido banheiro da nosssa praia, o sr. João da Encarnação, tesoureiro o sr. Carlos Augiusto de Oliveira, secretário o sr. António Ribeiro da Costa e vogais os srs. António Monteiro e António Boanova".

VALORIZE-SE O FORTE DE SANTA CATARINA

Eis um interessantíssimo texto publicado no A.F. (ano II, nº 6, 1934) da autoria de João Coelho. Ficamos chocados com a sua actualidade e com a forma simples e inteligente como o problema é colocado; problema que ainda hoje está por resolver. Vejamos o seu sábio conselho:
 

 

"Há muito que meditamos na possibilidade de se organizar um pequeno museu militar no Forte de Santa Catarina, à semelhança dos numerosos que, após a Grande Guerra, se espalharam pela Bélgica, e constituem hoje um dos maiores atractivos para os visitantes daquele pequeno grande país. A Figueira, conquanto não tenha sido teatro de extraordinários feitos bélicos, foi-o todavia dum evento que a liga à história militar da Inglaterra e de Portugal, por um modo que, em qualquer país teria sido muito bem explorado, como um riquíssimo filão para efeitos de turismo. Refiro-me ao desembarque na margem sul do nosso porto da tropas inglesas do comando de Sir Arthur Wellesley, mais tarde Duque de Wellington.
 
Na casamata do forte, fronteira à capelinha de Stª Catarina instalar-se-ia este pequeno museu que, como simples comemoração do feito citado, não exigiria grande cópia de espécies expostas. Poucas coisas mas bem apresentadas, e uma boa decoração, bastariam para lhe estar assegurado um efeito retumbante, com o qual, a Figueira pobre de monumentos e de tradições muito teria a lucrar. A adaptação dessa casamata é tudo quanto há de mais simples e menos dispendioso (...) Como ornamento, vários painéis de azulejo, representando um dêles, o desembarque das tropas britânicas segundo um desenho feito por um oficial que acompanhou a expedição e do qual há várias cópias na Figueira, e outros representando Wellington, Napoleão ou qualquer outro motivo (...).
 
Talvez não fôsse desacertado haver ainda neste museu uma pequena secção representativa da Grande Guerra. Na secção da Guerra Peninsular haveria espingardas de pederneira, espadas, mochilas, etc. e alguns manequins representado soldados ingleses e portugueses vestidos com os fardamentos da época.
 
Também a capelinha de Stª Catarina devia fazer parte dêste museu, como local em que os soldados da guarnição do Forte, muitas vezes praticaram, até sob forma, alguns actos do culto então obrigatório(o autor sugere aqui algumas pinturas a criar por artistas plásticos do seu tempo e a expôr na capela). Depois disto uma brochurazinha com algumas ilustrações a côres, descrevendo em português e inglês o acontecimento histórico que o museu visa perpetuar (...) Eis, um alvitre que o Álbum se honra de sugerir."

OS INGLESES NA FIGUEIRA





Carta de um soldado inglês do corpo de Wellington escrita a 8 de Agosto de 1808 a partir do
acampamento de Lavos, próximo da Figueira



Aproveitei a oportunidade duns momentos vagos para lhe escrever algumas linhas a dizer-lhe que estou perfeitamente bem, embra bastante fatigado e queimado por andar constantemente exposto ao sol e pela actividade que o meu conhecimento da língua e a nossa situação torna indispensável; (...)


Nós desembarcamos no primeiro deste Mês (Agosto) Foram precisos três dias para o desembarque de todo o exército, e se de terra nos tivessem feito oposição, nós positivamente nunca o conseguiriamos ter efectuado tão grande é a ressaca tanto na costa como na barra. Contudo, graças a Deus todo o exercito desembarcou sem nenhuma perda, a não ser de um ou dois cavalos e agora oupamos uma posição neste lugar, tendo à nossa esquerda a aldeia e à direita o mar (...).


Nós avançamos para atacar Mons. Junto depois de amanhã; a guarda avançada sob o comando do general Fane segue amanhã. Serão alguns dias de marcha. A parte mais trabalhosa desta empresa está nestas estradas infames e no sol abrazador que com o enorme trem de artilharia e bagagem nos obrigam a um movimento muito moroso.

(...)

O estado maior do gen. Ferguson ocupa aqui a casa um velho amigo, onde nós estamos bastante confortavelmente pelas atenções dispensadas pea senhora G. Archer da Figueira, enviando-nos tudo o que podemos necessitar. Aliás, eu não seim o que devíamos ter feito estando a Figueira a quatro milhas e meia de distância e sem encontrarmos mais perto daqui nada para comer ou beber.

(...)

Do vosso sempre amado filho

Wm Warre"


13 de jul. de 2004

JOÃO GASPAR DE LEMOS, herói da liberdade

Texto de Bulhão Pato sobre JOÃO GASPAR DE LEMOS (Carvalhal, Maiorca, 1816-1892), herói liberal da batalha de Asseiceira e médico distinto.



"Tornei a Coimbra e depois fui à Figueira pela primeira vez.
No dia seguinte li num jornal:
Regressou da sua viagem pela Europa, o ilustre poeta João de Lemos na sua quinta de Anta. Montei a cavalo e pus-me a caminho. Às cinco horas bati-lhe À porta. O poeta ia para a mesa. O meu aparecimento era imprevisto. Abraçámo-nos com a efusão da sincera amizade.
Eu estava na flor, João de Lemos na força da vida. Gaspar de Lemos era então - 1862 - um homem de 46 anos. Alto, seco, musculoso e de aspecto varonil. Abonava-lhe o rosto a bravura de ânimo.
Aos dezoito anos alistara-se nas fileiras liberais. Na batalha de Asseiceira, a 16 de Maio de 1834, era segundo sargento do batalhão móvel de Alcobaça. Nesse dia houve um momento em que a acção estava perdida. Quando os seus se retiravam, Gaspar de Lemos voltou a face ao inimigo, bradando aos camaradas e influindo-lhes ânimo. Escapou à morte por milagre!
No ano seguinte foi condecorado com a Torre e Espada.
(...)
Terminada a luta matriculou-se em medicina na Universidade de Coimbra, formando-se com distinção. Os pais eram extremamente pobres. Às solicitudes de um tio padre deveu a sua educação.
Não pediu à pátria nenhuma remuneração! Havia homens desta têmpera, naqueles dias! Conhecem agora por aí alguns com tais músculos?"

ANTERO NA FIGUEIRA

Manuel de Arriaga conta-nos um episódio que envolveu o seu amigo Antero de Quental na Figueira da Foz



"Achámo-nos um dia, sós os dois, no fim de uma larga excursão a pé e ao cair da tarde numa terra de pescadores, próxima da Figueira da Foz, em Buarcos. Antero não era forte no mar. tentou-nos a ideia de sairmos numa das lanchas que partiam para a pesca. Antero condescendeu.
Não mediu bem as consequências do passo que dava. Não pensou nas longas horas que seria obrigado a permanecer nas solidões do oceano, numa noite calmosa de verão, perante as cintilações dos astros e a fosforescência das ondas, sem agasalho e sem alimento!
Passámos toda a noite nas alturas do cabo Mondego...
Era um espectáculo digno em tudo da grande alma do poeta micaelense. Antero, porém, sucumbiu. A ondulação repetida da vaga, o cheiro nauseabundo do peixe, a debilidade pertinaz do estômago, que mais tarde havia de ser o mais implacável inimigo, o frio da noite, prostraram-no completamente. As ânsias de enjoo que por vezes o acometeram obrigaram-nos a instar com os barqueiros para voltarmos a terra.
Era transtôrno e prejuízo para eles abandonarem a pescaria, quando esta lhes corria favorável; mas cediam já à nossa instância, quando Antero tomou a defesa dos pobres homens com tal firmeza de vontade que desistimos do nosso propósito! Com uma abnegação verdadeiramente estóica, com uma submissão ao sofrimento perfeitamente evangélica, deitou-se atravessado na pôpa da lancha junto de nós e ali esperou, silenciosamente, longas horas, até que o pescadores dessem a tarefa por terminada ao romper da alvorada. Quando desembarcámos eram cinco hortas da manhã. Antero parecia um desenterrado...Antero não tinha sido o autor desta orgia sui generis, mas a sua boca foi sagrada, não teve palavra de imprecação, de censura ou queixa."

Na Figueira, em 1860, Antero escreveu o seu poema "O CREPÚSCULO" . Também aqui terá escrito, de acordo com Teófilo Braga, a ode "AS ESTRELAS"

12 de jul. de 2004

DISPUTAS NAS TERRAS DE LAVAOS

Na doação que o Abade Pedro fez à sé de Coimbra da igreja de S. Julião (que aqui reproduzimos, em parte) consta a herdade de Lavalos. O Abade Pedro era de origem mocárabe e tinha recebido do conde Sisenando "o encargo de restaurar as terras deste trato da orla marítima, devastadas pelas guerras da reconquista" (1080).

Após a morte do Abade a região voltou a ser assolada por sarracenos e só depois da conquista de Lisboa (1147) foi povoada de vez. O bispo de Coimbra, João Anaia (1148-1154) projectou restaurar S. Julião, S. Paio, Lavos, Buarcos, Casseira e S. Martinho de Tavarede, "distribuindo estas vilas por sete colonos". Estes, entraram em disputas uns com os outros a propósito dos limites das terras e o mesmo aconteceu entre a Sé e o mosteiro de Stª Cruz de Coimbra. Em 1190 ainda a Sé e os frades cruzios disputavam o território - aproveitando dissidências entre o rei e o bispo - conseguindo estes que D. Sancho I lhes fizesse nova doação das terras em 22 de Setembro de 1202.

Seguimos neste texto um outro do Dr.Ruy de Azevedo, publ. no AF, Abril de 1939

NEMÉSIO A BANHOS

De Vitorino Nemésio in Diário de Lisboa, 7-9-1935, sob o título "A Banhos"



"Vou no meu quarto ano de Figueira. Isto é um curso: no primeiro ano nem se conhecem condiscípulos, que são os outros banhistas. No segundo já há relações - não muitas, porque as dsiciplinas são absorventes e variadas: escolher banheiro, mercearia, farmácia para a pomada contra as queimaduras do sol e alguma tintura de iodo, conhecer as manhas da porta da casa alugada(uma ciência), etc. Até que, no terceiro, saudados logo à chegada pelo banheiro, pelo merceeiro, pelo rapaz do pão que nos dá o inútil bilhete de visita segurando o guiador da bicicleta, estamos quási formados (...)

Não me formei propriamente em Figuera da Foz (nome de Faculdade) mas em Palheiros, Universidade de Buarcos.(...) estudar o regime das nortadas, a psicologia das mulheres que vendem peixe e que nos saturam de sardinha, as laparotinhas que descem ao povoado com o cesto da fruta ou do feijão.

(...) O Dr. Oceano é na verdade a pessoa mais importante da Figueira. Emquanto gizo êste artigo êle muge atrás de mim. O crescente da lua estampa-se no céu. Abaixo uma esteira de luz, para cá, na areia, ondas que se desdobram como grupos de quatro atiradores deitados, que na carreira de tiro, à voz de "fogo!" disparam ao alvo certo.

(...) No resto a Figueira é trivial e adorável como um híbrido de praia mundana e cidade de pequenos armadores. O turismo apregoa a parte confortável, recreativa e fresca do simpático produto, e tem para isso as razões especiais de todo o turismo moderno: boa esplanada, praia de aro imponente, casinos e cafés populosos, um delicioso ténnis instalado com muito gosto num forte abandonado das bombardas. Eu apego-me mais à Figueira de todo o ano, morta no Bairro Novo (...).

Não sei se êste interesse pela Figueira de inverno me veio de um romance de João Gaspar Simões, Amores infelizes, em que a alma burguesa da cidade diz uma parte importante daquilo que tem a dizer."

9 de jul. de 2004

O ILUSTRE MAESTRO PAULA SANTOS



O maestro Paula Santos nasceu em Torres Vedras em 22 de Julho de 1854 e faleceu na Figueira a 9 de Janeiro de 1919. Cursou o Real Conservatório de Música de Lisboa onde concluiu o seu curso. Leccionou como professor particular e dirigiu agrupamentos musicais, como tunas e filarmónicas.

Em Setembro de 1891 Paula Santos veio reger a Filarmónica Figueirense, cargo que ocupou até 1899. Dirigiu o grupo musical da Troupe Recreativa Brenhense. Foi director e professor do Colégio Liceu Figueirense. Em 1911 organizou a Orquestra Filarmónica da Figueira que integrava elementos de duas bandas locais e outros amadores musicais.

Paula Santos era um exímio instrumentista, sobretudo de instrumentos de sopro. Fundou e dirigiu o "Quinteto Paula Santos" no qual tocava como pianista uma filha sua, Albertina Paula Santos. Dirigiu ainda a Filarmónica de Verride e a orquestra do Teatro Circo Saraiva de Carvalho assim como, ocasionalmente, orquestras do Teatro Príncipe D. Carlos. Na noite em que o teatro Príncipe ardeu estava a regência da orquestra confiada a Paula Santos.

O maestro faleceu em plena actividade; dirigia o seu grupo no Casino Peninsular quando foi fulminantemente atacado por uma síncope cardíaca.

Deixou uma obra vastíssima na área da composição, quase toda trechos poulares.

Será possível reviver esta obra? Será possível não deixar cair no esquecimento a figura do Maestro Paula Santos? Aqui fica a lembrança a quem de direito.

7 de jul. de 2004

A ESPLANADA SALVOU-SE



Aconteceu em 1900.
Os vereadores de então conceberam "a espantosa e infelicíssima ideia de vender, para construções, uma faixa de terreno na esplanada inferior em frente da esplanada de cima, o que, formando cortina, lhe tiraria todo o encanto e inapreciável valor como o mais formoso belvedere que a cidade oferece aos vistantes".

Os figueirenses, por intermédio de Manuel Gaspar de Lemos, fizeram correr uma representação por toda a cidade angariando assinaturas. O relato diz-nos que "os senhores camaristas ficaram bastante aborrecidos e acederam ao pedido que lhes era feito" de salvar a esplanada.

A coisa já vem de longe...

O TESTAMENTO DO ABADE PEDRO

"Ego petrus abbas propter amorem sanctae it indiuiduae trinitatis facio kartam testamenti eclesiae sanctae dei genitricis semperque uirginis mariae episcopalis sedis colimbriensis de aeclesia sancti iuliani quae est sita in septemtrionali ripa mondeci fluminis prope litus maris quae condam depopulata et destructa fuit a sarracenis...."

"Eu, Pedro, abade, por amor de Santa e Indivídua Trindade, faço à igreja de Santa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria da Sé episcopal de Coimbra, doação da igreja de S. Julião, que está situada na margem norte do rio Mondego, junto à praia, a qual noutro tempo foi saqueada e destruída pelos Sarracenos".

Começa assim o testamento do abade Pedro, feito em 1096, conforme se acha transcrito no Portugaliae Monumenta Historica. O Abade, pelos seus serviços, recebeu do conde Sisenando "além da abadia de S. Julião, todas as terras cultas e incultas que ficavam ao oriente, designadas já naqueles tempos pelos nomes de Casseira, S. Veríssimo (Vila Verde) e Fontela, o que junto com a herdade de Lavos constituía uma grande riqueza".