23 de fev. de 2009

A CENSURA AO MAR ALTO

ARQUIVO E PAPÉIS DE JOAQUIM BARROS DE SOUSA (5). A CENSURA AO JORNAL MAR ALTO (1967-1974). 3

OBRIGADO, SALAZAR!


A NOVA BARRA DA FIGUEIRA



Há 150 anos era inaugurada a nova barra da Figueira da Foz. Sem grande sucesso, uma vez que três anos depois a barra voltaria a assorear. O Eng. Adolpho Loureiro descrevia assim o estado da foz, antes das obras:

A grandíssima diminuição da capacidade dos receptáculos interiores, já pelos assoreamentos e depósitos, já pela construção de diques vedando os terrenos ao acesso das aguas salgadas, e a rápida e progressiva obstrução do alveo do Mondego e dos seus afluentes, tanto pelos sedimentos e aluviões fluviais, quanto pelos marítimos, em breve começaram a ter por consequência o assoreamento do porto, a instabilidade e pequena profundidade do canal da barra, e a formação do banco exterior da foz do Mondego, muito próximo da costa” (1)

As obras traduziram-se num “paredão de 1200 metros de comprimento, assentado em funda estacaria”. Das rochas da praia do forte, fez-se cal, que serviu ao empreendimento e “cobriu-se esta praia de elevados aterros, defendidos do mar por grossos muros". Assim se conseguiu proteger “algumas povoações e muitas marinhas importantes” (a sul). (2)
As obras foram supervisionadas pelo Eng. Francisco Maria Pereira da Silva.

Mais tarde. já em 1929, teve que se proceder a obras de vulto no molhe sul e aproveitou-se o ensejo para construir a doca dos bacalhoeiros e aquele que ainda é o cais acostável da margem norte.
Em 1959 anunciavam-se novas obras…

(1) Adolpho Loureiro, Memórias sobre o porto e a barra da Figueira e as obras para o seu melhoramento, 1882.
(2) Filipe Simões, Cartas à Beira-Mar, cit. Por M. Pinto e R. Esteves em Aspectos da Figueira da Foz, 1945.

21 de fev. de 2009

BUARCOS PARA OS VIAJANTES (1917)



Pertenceu ao couto de Tavarede que foi villa muito importante nos séculos idos; e teve tambem foros de villa, do dominio e jurisdicçao do duque do Cadaval a quem pertencia tambem a barca de passagem da Figueira para o Cabedello. A antiga alfandega da Figueira, apesar de construida pouco mais ou menos no logar da actual, era designada nos seculos XV a XVII por Alfandega de Buarcos, havendo tam­bem documentos que lhe chamam Alfandega de Tavarede, a cujo couto a villa pertencia, como fica dito.
No tempo de Filippe II, quando este veio em perseguiçao de D. Antonio, Prior do Crato, as tropas filippinas invadiram Buarcos, relatando a historia os prejuizos que os invasores causaram, sobretudo no convento de Santo Antonio, que datava de 1527; assim como da historia consta tambem que em 1602, foi a antiga villa saqueada e destruida pelos piratas inglezes, que ali aportaram e desembarcaram, tendo trazido uma frota de 7 navios.
Foi sempre povoaçao muito dada a pesca, e ja em 1871, segundo o respectivo censo, contava 2.206 habitantes, na sua maior parte da classe piscatoria, o que ainda hoje sucede, não obstante ter crescido o numero d'almas e de fogos com o desenvolvimento adquirido, e as novas e algumas bem elegantes construções veraniegas, etc. Pelo censo de 1900 ja contava 5033 habitantes.
A Buarcos afluem por vezes grande numero de barcos dos pescadores do norte, que, acossados pelos temporaes, e não podendo entrar na Figueira, pro-curam varar na praia do Buarcos, que lhes offerece o melhor abrigo facilitado pela sua enseada.
Os barcos que veem do largo e pretendem recolher-se ali, teem de transpor as restingas e rochedos da costa, que deixam entre si canaes, ou carreiros, na propria phrase dos Pescadores, dos quaes os mais seguidos por esses barcos sao os chamados Carreiro Grande e Carreiro Pequeno. Com toda a sua pericia de experimentados, os Pescadores conduzem os seus barcos pelos estreitos canaes em referencia, sem tocar nas rochas onde se despedaçariam. Ao sahir, po­rém d'esses estreitos, e ao entrar no porto, recebem de proa uma forte corrente lateral, em consequência das vagas que se propagam pelos outros carreiros com desegual velocidade, de modo que so manobras muito habeis e felizes evitam que os barcos se voltem e pereçam os seus esforçados tripulantes. Quando o mar se acha encapellado e o temporal e rijo, dao-se alguns sinistros, contando-se sempre victimas, e dando-se na costa as scenas pungentes que podem imaginar-se,
Para se fazer uma ideia da importância do porto de Buarcos, diremos que só nos trez annos de 1868-69, 1869-70 e 1870-71, o valor da pesca realisada foi de 192:83O$023 reis, na moeda do tempo, tendo o respe-ctivo imposto rendido para o Estado 11:529S533 reis.
Nas praias limitrophes da de Buarcos, como sejam Quiaios, Palheiros, Cova de Lavos e Leirosa, havia en tao 28 grandes artes de pesca, 698 redes diversas, 540 apparelhos de anzol, 29 barcos grandes, 27 medianos e 48 mais pequenos, com 1143 Pescadores de profis-sao e 232 adventicios. D'ali se exportava ja peixe, em grande quantidade, para toda a parte', levando só o caminho de ferro de Hespanha e Alemtejo 600 toneladas.
(…)na sua Chorographia Moderna diz-nos João Maria Batista, que a antiga villa de Buarcos foi fundada por gentes da Galliza, que encontrando n`aquela costa abundância de pescaria, ali fizeram construir diversas cabanas de buinhos (espécie de junco) e arcos, e que d`esta circumstancia derivou o nome da povoação.

Figueira da Foz e arredores, indicações gerais para uso dos viajantes, Sociedade da Propaganda de Portugal,1917