29 de jul. de 2005

JOAQUIM ANTÓNIO SIMÕES





Nascido na freguesia da Abrunheira (1817-1905), Joaquim António Simões herdou posses dos seus pais e de um irmão. Desenvolveu, no entanto, actividades bem sucedidas no comércio exportador e deve ter sido o mais notável dos comerciantes figueirenses.

Exportou para o Brasil e outras paragens, Vinho do Porto, espumantes da Bairrada, geropigas, aguardentes e um licoroso de fabrico próprio, que se assemelhava ao Madeira; mais tarde canalizou os seus negócios para as ex-colónias de Angola e Moçambique.

Rezam as crónicas que os seus armazéns (em número de 14, localizados onde é hoje o Palácio da Justiça) eram dos maiores do país e que foram montados por operários de Bordéus. Empregava, na sua tanoaria privativa, nos momentos de maior trabalho, cerca de oitenta operários e utilizava “as mais modernas e apuradas machinas”. Os seus produtos foram medalhados em Filadélfia, Paris e Cidade do Cabo.

Joaquim António Simões foi membro do Partido Progressista e foi ministro de D. Maria em 1848.
A ele se ficou a dever a construção do Teatro Circo Saraiva de Carvalho (concluído em 1885), que viria a dar origem ao actual casino (foi o principal accionista da Sociedade Teatro-Circo Saraiva de Carvalho), e foi o grande impulsionador da construção do ramal ferroviário da Beira Alta (1882). Também se deve à sua influência a construção da primeira ponte sobre o Mondego (1906).

Vejam o post "As pontes da Figueira" de Agosto de 2004.

25 de jul. de 2005

A CASA DO PAÇO




Em 1701 iniciava-se construção da nova igreja matriz. Eram tempos difíceis pois o povo pediu ao Rei que os dízimos entregues ao Cabido da Sé ficassem aqui, para ajudar à construção do templo. Esta deverá ter sido também a razão pela qual se interromperam, nesta altura, as obras de reconstrução das fortalezas de Buarcos e da Figueira, que se realizavam por alvará de D. Pedro II.

Em 1704 morria o bispo-conde D. João de Melo – 49º Bispo de Coimbra e 14º Conde de Arganil, nascido na Figueira da Foz em 1620 - a quem se atribui a construção da Casa do Paço, iniciada em 1700. Refere o investigador Arnaldo Soledade que o bispo mandou erigir a Casa “por sentir na carne os efeitos estivais da velha Coimbra”.

Na verdade, o bispo não devia andar bem pois não sobreviveu para ver a edificação completa. Tudo indica que a Casa nunca foi concluída, face ao projecto inicial, pois falta-lhe o torreão poente.

A razão da atribuição da Casa a D. João de Melo prende-se com a similitude da sua fachada principal com a fachada norte do Convento de Stª Isabel. Os torreões também são iguais, têm as mesmas proporções e igual coroamento.

A Casa foi deixada pelo Bispo-Conde ao seu sobrinho D. António José de Melo, cujos descendentes foram condes da Figueira. Já foi hospedaria, sede da Assembleia Figueirense, colégio, ginásio, museu municipal e local de instrução militar.

24 de jul. de 2005

A GRANDE EPIDEMIA E O CRUZEIRO



Quando o general Massena passou a fronteira com um exército de 60 mil homens, as populações das aldeias limítrofes acorreram à cidade em busca de protecção. A grande aglomeração de famílias em condições de pouca higiene gerou uma epidemia que provocou forte mortandade (mais de 5 mil mortes), tendo atacado também os “soldados da Brigada”.

O número de mortes obrigou a Câmara de então a abrir novo cemitério, pois o adro da igreja matriz mostrava-se insuficiente. A decisão teve lugar a 24 de Janeiro de 1810 e reza assim uma passagem:

“(…)Se não deviam enterrar no centro da povoação onde está a egreja e o seu adro, e por conseguinte se devia estabelecer um logar mais remoto e separada para que os mesmos se sepultassem com segurança do público (…) e assentaram que o sitio mais adequado (…) fosse a Cerca do Convento de Santo António”.

Com a batalha do Bussaco e tendo as Brigadas deixado a Figueira da Foz, as gentes refugiaram-se nos arredores, pelos pinhais e montes.
Em Outubro, Massena mandou Montbrun à Figueira para saquear os armazéns da terra que se julgavam bem abastecidos, mas os franceses encontraram-nos vazios.

Com a saída dos franceses do território nacional começou a chegar à Figueira forte apoio em alimentos que eram distribuídos para outras paragens.

Todos dizem que a foz de Figueira do nosso Mondego está coalhada de Hyates e outras embarcações de transportes”.

Para assinalar estes acontecimentos foi erigido em 1912 um cruzeiro, em cuja base um texto dá conhecimento destes factos e que se encontra agora na rua Heróis do Ultramar.


Nota: O monumento está completamente abandonado mais parecendo uma lixeira; falta, no seu exterior, uma explicação alusiva aos factos históricos que lhe deram origem.

22 de jul. de 2005

AS ESCOLAS NA FIGUEIRA DA FOZ



Em 1779 a Rainha D. Maria, mulher dada aos assuntos da educação, criou uma Aula de Gramática Latina e mais tarde uma escola de ler, escrever e contar entregue aos frades do Convento de Stº António.

Quase um século depois foi criada uma Aula de Desenho Industrial (1888) sendo estabelecida em 1889 a Escola Industrial. Dois anos depois esta escola “caía” mas Bernardino Machado, em 1893, havia de a reabilitar. Esta escola leccionava Desenho Geral e Industrial, Língua Francesa e o Curso Elementar do Comércio.

Em 1910 foi fundado o Colégio Figueirense por José Luiz Mendes Pinheiro que mais tarde (1936) o doou ao episcopado de Coimbra. Viria a ser o Seminário da Figueira da Foz.

Em 1914, já na República, foi criado o Jardim Escola João de Deus, sito no Bairro do Pinhal, obra levada a cabo pela Misericórdia.

Em 1922 nasceu a Academia Figueirense, um externato para rapazes onde era ministrado o curso primário e o curso liceal.

Em 1932 foi criado o Liceu Municipal Bissaya Barreto que funcionava onde era, até há pouco tempo, o terminal rodoviário.

Em 1949 apareceu o Colégio de Stª Catarina, para raparigas.

Em 1961 o Liceu Municipal passaria a Nacional, em 1969 mudou-se para as actuais instalações e em 1978 tomou o nome de Joaquim de Carvalho.

Em 1986 foi criada a Escola Cristina Torres e depois desta surgiram já as escolas Pedrosa Veríssimo, no Paião, a Escola Pintor Mário Augusto, nas Alhadas e a Infante D. Pedro em Buarcos.

7 de jul. de 2005

OS MERCADOS DA FIGUEIRA E O JARDIM (1770-1892)



O primeiro mercado da Figueira da Foz começou a funcionar por volta de 1770 no local onde é hoje a Praça Velha. Ao tempo, a praça era uma enseada do rio designada Praia da Ribeira e servia de estaleiro. O mercado funcionava na zona onde hoje se encontra o pelourinho.

Em 1772 a Câmara mandou aterrar a enseada tendo os trabalhos ficado concluídos em 1784. A zona aterrada deu então lugar à designada Praça do Comércio, a qual passou a ser o coração da vila.

O local onde hoje se encontra o Jardim Municipal era igualmente uma enseada do rio (a mais profunda) chamada Praia da Fonte que servia de doca para conserto de embarcações. Em frente havia uma doca para fundeadouro e descarga e toda a frente ribeirinha, dali até ao forte, era zona de armazéns e oficinas: Forjas, serralharias, casa de arreios, carpintarias e cantarias, entre outras.

Aterrada a Praia da Fonte nasceu em 1881 o Jardim Municipal. Tinha uma zona ajardinada, um lago de dimensões razoáveis e um coreto. Curiosamente, o lago ficava no local que viria a ser depois o coreto, ou seja, mesmo em frente ao mercado (V. imagem).

A Câmara de Francisco Lopes Guimarães deliberou em 1890 construir o mercado, tendo escolhido uma proposta da Companhia Progresso Figueirense de Guilherme Mesquita.
O mercado foi inaugurado oficialmente em Junho de 1892.

4 de jul. de 2005

MATCHS DE DOMINGO

Uma delícia esta prosa desportiva encontrada na GAZETA DA FIGUEIRA de 1 de Fevereiro de 1911.

No passado domingo jogaram no campo do Gymnasio, na Morraceira , o 1º e 2º team deste club, e os teams da A. Naval e A. dos Caixeiros.
Ao meio dia jogaram os teams da Naval e dos Caixeiros, ficando o jogo empatado por 0 goals a 0, apezar da boa vontade de uns e d`outros. Há pouco a notar neste match: muita parede dos dois campos (parece que aprenderam agora este modo de defeza); bons shots de um dos backs da Naval e de outro dos Caixeiros; Gouveia, que jogou bem, e que foi ajudado pelos seus insides; Paulo de Carvalho que defendeu bem e … nada mais.
Pouco tempo depois realizou-se um treino entre os dois teams do Gymnasio. No segundo team há alguns players com aptidão para o jogo, e que, como primeiro treino, jogaram menos mal. A. Marques, back direito d`este team, tem um bom shot e fez boas defezas.
Pelas duas horas jogaram os primeiros teams do G. e do A. Dos C. marcando o G. 1 goal contra 0.
A chuva, que começou a cahir com mais abundância, prejudicou muito o jogo dos players, principalmente dos do G. que tinham o vento contra. Os Caixeiros pouco tiveram que defender, pois que o vento rijo que soprava se encarregava de defender o seu goal. José Bento, keeper do G. trabalhou muito e se assim não fosse o G. veria entrar algumas bolas pelo seu goal.
Os players do Gymnasio estavam desastrosos. De quando em quando falhavam shots, até aos que os teem mais firmes. Mas apesar disso, da sua pouca sorte, todos trabalharam com vontade, notando-se Dr. Rainha, nas suas bellas defezas, os forwards que, vamos lá, não andaram mal, F. das Neves e M. Gaspar, halfs, que defenderam bem e José Bento, que como já dissemos se portou como mestre.
Os backs estavam um pouco fracos, o que não admira pois tinham constantemente que defender.

21 de mai. de 2005

A PRAÇA VELHA EM FINAIS DO SÉCULO XIX



(...) Nos finais do século XIX surge-nos a zona mais antiga da praça toda calcetada com árvores junto das ruas laterais e bancos nos intervalos; a zona central da praça apresenta larga faixa empedrada a basalto e no centro uma grande circunferência limitando uma estrela que contem no meio um pequeno círculo com data de 1879 o que nos sugere que o calcetamento tenha sido feito em igual data. Junto aos prédios surgem-nos alguns passeios de cantaria e em dois deles rebatos altos, moldados, que serviriam para impedir a entrada das águas aquando das marés; no topo norte o pelourinho. A zona sul da praça era ainda mais simples consistindo num terreno central alongado até ao cais, em macadame mal cilindrado, orlado de árvores e bancos com duas ruas laterais e passeios estreitos, calcetados.
Foi num prédio desta praça que nasceu o nosso conterrâneo General Freire de Andrade quando o seu pai se encontrava ao serviço das obras do porto.
(…) Ao contrário do habitual não eram a farmácia ou a barbearia os locais mais procurados para cavaqueira desses tempos mas sim o Estanco Real, estabelecimento que tinha o privilégio da venda de tabacos. Era ali que todas as noites, em agradável e ranço convívio, se juntavam as pessoas gradas locais.
Tratava-se de um estabelecimento amplo. Bastante fundo, dividido a meio por um balcão com paredes escuras e forradas até meia altura; do lado de fora situavam-se bancos compridos de madeira de pinho, e a luz, em virtude não haver janelas, apenas penetrava pela porta frontal (...)
Retirado do Dr. Santos Rocha, Materiais...

MOUROS EM BUARCOS



Esta noute de domingo pêra a segunda feira tratarão duas lanchas de mouros de entrar na villa de Buarcos e por ia (já) estar gente metida dentro se lhes fés resistência e se forão vindo acodir um Capitao mor a esta hora que são doze do dia forão vistas cincoenta e tantas vellas e da vella que fiqua no monte alto (Vela, na Serra da Boa Viagem) me avisao que se vista de mais não passando na derrota para essa cidade e por que sendo de inimigos como se presume se podem ir detendo humas por outras aviso a V. magestade e nesta costa de tratar com muito cuidado posto que he terra sem defesa como mais largamente darei conta a vossa Magestade Cuia Catholica pessoa deus guarde nesta costa de Buarcos 29 de Julho 1630
Dioguo Martins coelho

8 de mai. de 2005

A TOMADA DO FORTE DE STª CATARINA



O sargento de artilharia Bernardo António Zagalo saiu de Coimbra à frente de uma força de 40 voluntários, 25 dos quais estudantes.
Pelo caminho os sitiados foram arrebanhando homens para a sua causa, fazendo aclamações e repicando sinos.
Às sete da manhã o batalhão entrou na Figueira e compunha-se então de perto de 3000 homens armados com lanças, piques e foices.

Os franceses, que há 7 meses ocupavam o forte e a cidade estavam desprevenidos. Diz Zagalo:
“Vendo porem, que o povo sem refletir no perigo se adeantava demais, corri à sua frente e o fiz retirar: nessa ocasião dispararão os franceses alguma mosquetearia e huma peça de artilharia sobre nós; mas tendo observado os seus movimentos deitámo-nos e moa ferirão uma única pessoa. Como o cerco estava formalmente lançado e a comunicação como Cabedelo inteiramente cortada intime aos franceses quese rendessem pois sabia que não tinhao mantimentos ara aquele dia, aliás seria passados à espada. O comandante respondeu que era um tenente engenheiro portuguez e que não podia render-se por causa do perigo em que ficava a sua família que tinha em Peniche em poder dos franceses; em razão disto continuou o cerco e quando se estavao para render à descrição de hora a hora recebi no dia 27 (Junho de 1808) ordem do governador de Coimbra para me retirar imediatamente para aquela cidade”.

O povo entretanto entrou pelo forte e com ele as autoridades – major de Buarcos, juízes de Fora da Figueira e Tentugal – e desarmaram os franceses.
Nota: Sobre este assunto veja os posts "Valorize-se o Forte de Stª Catarina" e "Os ingleses na Figueira", ambos de Julho de 2004

FIGUEIRA VILA - MARÇO DE 1771



Hey por bem erigir villa o lugar da Figueira da Fós do Mondego e crear nella o lugar de juis de Fora, Crime e orfaons que terá por destricto os coutos de Mayorca, das Alhadas, Quiajos, TAvarede, LAvos e e az villas de Buarcos e redondos e os ocnselhos e cituações a sul do rio chamado de Carnide ou do Louriçal desde onde principia o destricto da Ouvedoria de pombal ate o Moinho de Almoxarife que tudo hey por desmembrado do destricto de Monte Mor o velho a quem ate agora pertenci e outrossim hey por bem nomear para o logar de juis de Fora o bacharel Bento Joze da Silva o qual fazendo a meu contento a dita creação se haverá o dito logar por cabeça de comarca depois de me servir três annos e os mais que decorrerem emquanto lhe não nomear successor.
Palácio de Nossa Senhora de Ajuda em 12 de Março de 1771

19 de abr. de 2005

FORTIM DE PALHEIROS




Conheceu vários nomes: Fortim da Praia, Fortim do Centro, Reduto Central da Praia; Há quem assegure que se deve a D. Miguel a construção deste reduto de defesa da costa mas não é líquida esta opinião, pois outros encontram-no feito antes das guerras liberais.

O Fortim, que era composto por uma bateria semi-circular, possuia dez bocas de fogo, muralha e parapeitos e ainda uma casa da guarda;contribuia para a defesa da enseada da Figueira a par do Forte de Stª Catarina e do Forte de Buarcos. A sua acção era conjugada com o apoio da infantaria e da cavalaria impedindo eventuais desembarques.
Em 1909 o rei D. Manuel vendeu o fortim em hasta pública tendo-o adquirido Joaquim Sotto Maior pela quantia de quinhentos mil e cem reis.

Foi por duas vezes consagrado como imóvel classificado de interesse público mas tal não o afastou do abandono e do esquecimento.A construção da urbanização da Mata do Sotto Mayor deu o golpe final ao monumento. Restam as pedras que se vêem na imagem.

12 de abr. de 2005

O ESTADO DA NAÇÃO SEGUNDO FERNANDES THOMAS




"O senhor Fernandes Thomaz concluio a leitura do Relatorio ácerca do Estado Publico de Portugal, que se mandou dar ao prelo, e he do theor seguinte:
RELATORIO.
Semhores = O dia 1.º de Outubro do anno de 1820, reunindo em hum só os Governos Provisorios do Porto e de Lisboa, marca em Portugal a epocha para sempre memoravel, de huma nova administração publica, encarregada á Junta Provisional. Como participante de seus honrosos trabalhos, e como orgão della na Repartição do Interior, e da Fazenda, cabe-me em sorte a obrigação de indicar-vos sua conducta, na difficultosa tarefa de que foi incumbida - Lançarei ao mesmo tempo para vossa informação huma vista rapida sobre o estado do reyno, nestes dous interessantissimos objectos; e eu me consideraria feliz se pudesse fazer, tão dignamente como devo a Vós, e á Nação que representais, esta breve mas franca exposição, para a qual he indispensavel que eu chame a vossa attenção.
As causas, que produzirão nossa revolução venturosa, não são desconhecidas de hum só de nossos concidadãos, porque cada hum, na parte que lhe tocava, sentia sobre si o peso enorme das desgraças que affligião Portugal; e nenhum deixa hoje de estar convencido de que era chegado o ultimo instante da existencia politica desta infeliz Patria, se o braço do Omnipotente, confundindo projectos insensatos, não arrancasse das bordas do abysmo tão precioso deposito, para o entregar á vossa guarda, e vigilancia.
Males de toda a ordem se experimentão em todos os ramos da economia particular do Estado, porque a ignorancia, e a immoralidade tudo tinhão contaminado, corrompido tudo. Erros de seculos, e que por seculos havião adquirido a força, e o imperio dos habitos, não podião emendar-se em tres mezes. - A corrupção espalhada por todo o corpo politico não podia debellar-se completamente tem remedios lentos e geraes, porque o veneno atacára ao mesmo tempo toda a massa do sangue, e todo o systema vital.
Assim o Governo, meramente Provisorio desde sua creação, e desde ella tambem pouco poderoso, pela certeza de sua curta duração, não podia obrar com aquella energia que pedem as reformas; e muito mais porque a cada passo se via obrigado a desviar-se das vagas encapelladas das facções, mais impetuosas ainda no meio dos embates de huma revolução começada. - Limitava-se por tanto a pouco mais do que á emenda dos abusos; porque as providencias de universal influencia sobre a sorte da Nação ficavão fóra do seu alcance. Vereis por tanto nesta parte, Senhores, mais o que vos ficou para fazer, do que aquillo que o Governo fez.

RESPOSTA AO ULTIMATUM INGLÊS




Manifesto aprovado pela Associação Comercial aquando do ultimato inglês

“…) tendo em vista:
(…) Que o procedimento violento que usou para com Portugal é incoerente e indigno duma nação civilizada; porque quando a ciência, a diplomacia mais avançada e o sentir geral dos povos cultos procuram substituir à força o direito, à guerra brutal a arbitragem, a Inglaterra que, já do congresso de Paris de 1856, aderira ao protocolo, nº 23, ao voto das potências que nele intervieram de, em qualquer pendência entre os estados, se recorrer a uma potência amiga, antes de usar da força pratica o contrário, preferindo vencer-nos pelo terror e pela imposição da força bruta, a convencer-nos em discussão pacífica e honrosa da legitimidade das suas pretensões o mundo civilizado; (…)

Aderir à liga patriótica, tomando parte no movimento geral do país para os fins que forem convenientemente regulados, abrindo subscrição entre os comerciantes, industriais e proprietários do concelho, cujo produto fará parte da grande subscrição nacional.


A subscrição referida destinou-se à compra de armamento e rendeu 864$710 reis.

30 de jan. de 2005

A DILIGÊNCIA DE COIMBRA À FIGUEIRA



"Viemos ao Natividade à rua da Sofia e tirámos bilhete para a Figueira. Imaginem os leitores seis sujeitos e duas senhoras apertadamente encaixilhados na caixa interior do carro e verão se não arriscavam de morrer asfixiados por um calor descomunal, imenso.
Pois apesar de partirmos à 1 da tarde, aquele calor do dia suavizou-se em o mais agradável cavaco, em a mais alegre convivência dos oito passageiros...

Ao sairmos de Coimbra foram instalados 14 passageiros na coberta do carro, o que dava a totalidade de 28 pernas penduradas à vontade, em todas as direcções do carro, como se fossem pingentes ou filigranas.
Não pudemos suportar então a liberdade daquelas pernas que vinham até nossas cabeças e no auge do nosso protesto, perguntámos ao vizinho defronte se aquilo era proibido.
- É, e tanto que meteram os passageiros fora de portas para a polícia não intervir.
- Mas intervenho eu, disse o companheiro António, tirando o seu bonet de seda e pasando a mão pela testa, toda cheia de globulos de suor, como diamantes ou como gotas de orvalho espreguiçadas nas folhas de uma couve ao sol brilhante de Abril.
- Não faça caso acudiu um respeitavel prior que ia também de viagem; atice-lhe quatro lambadas boas; e essas pernas se recolherão como corninhos de caracóis.
E assim foi.

Passámos ao Choupal, o poético e maravilhoso lugar tão cantado por poetas e prosadores(...). E assim chegámos a Lavariz, a estaçaõ da muda de cavalos.
Dali em diante iam em cima só 4 passageiros que se acomodaram melhor. Começou então o ataque às rabanadas e laranjas duma passageira da Figueira (...) os arrozais com as suas águas estagnadas, pareciam espelhos encaixilhados na terra - e o sol fotografava fortemente os seus raios naqueles caixilhos(...) A estrada muito alongada, muito direita, era abordada de choupos - perdendo-se lá ao fim entre a ramagem das árvores.
A frescura da vegetação e muitos grandes cactus que adornam a estrada dão-lhe um tom de perspectiva admirável.
Os balanços do carro tiravam-nos muitas vezes da respeitosa admiração em que íamos(...)

Chegamos à Figueira (Praça Nova, junto à rua das Flores) entre os raios dourados do sol que se ia escondendo e o oferecimento generoso de valentes mocetonas que estendiam os braços vermelhos, quase cor de lagosta, para nos levar as malas e até a nós, se caíssemos nessa doce condescêndencia.

Texto do Sr. Pist, já citado

23 de jan. de 2005

O BAIRRO NOVO E A COMPANHIA EDIFICADORA



A Companhia Edificadora Figueirense foi fundada em 1868 com o objectivo de "promover diversos melhoramentos materiais na Figueira, e com a especialidade de dar desenvolvimento à formação do novo bairro de Santa Catarina, já principiado na parte ocidental da vida, e contíguo à praia de banhos, construindo casas de habitação e outros edifícios e comodidades para os banhistas e moradores no referido bairro".

Na fundação da Companhia estavam o Eng. Francisco Maria Pereira da Silva (de Lisboa, mas a residir na Figueira, o primeiro a construir uma moradia no Bairro Novo), António Ricardo da Graça e Augusto César dos Santos, de Lisboa, Dr. Francisco António Dinis e José Jacinto da Silva, ambos de Coimbra, Dr. António Lopes Guimarães, Bernardino Teixeira Ferraz, João Fernandes Gaspar, Bacharel Lucas Fernandes das Neves e António Ferreira de Oliveira, da Figueira.

Nos seus estatutos a Companhia propunha-se construir "habitações adequadas para banhistas, com mais ou menos acomodações – tipos para habitação de artistas, homens de mar e operários – tipo para cocheiras e cavalariças; um edifício com quartos independentes para hóspedes, e com amplas salas, ou recintos dispostos para refeições, bebidas, jogos permitidos e concertos de música; um albergue para as classes menos abastadas, um mercado e casas; um estabelecimento para banhos frios e quentes".

Em 2 de Abril de 1869 o presidente da Câmara, Dr. José Joaquim Borges, colocou a primeira pedra duma casa na cerimónia que marcou a construção do Bairro Novo. Era um edifício construído no local onde veio a ser o Hotel Portugal, hoje edifício do Health Club.

O Bairro Novo veio tirar protagonismo às praças na vida social da Figueira. Os cafés e estabelecimentos das praças mudaram para a alta e a colina, que se impunha ao mar, deixou de estar deserta. A construção do Bairro Novo iria permitir a abertura duma nova frente citadina, a frente de mar, e condicionar o crescimento da cidade no século XX.

16 de jan. de 2005

FIGUEIRA VISTA POR DENTRO E POR FORA



Excerto de uma reportagem publicada na Gazeta Ilustrada “O ATHENEU” do Porto em 1881(último ano da Figueira enquanto vila) assinada pelo Sr. Pist. o autor faz ironia com a divisão maniqueísta entre Progressistas e Regeneradores.

No dia seguinte ao da nossa chegada fomos logo de manhã cedo ver o Bairro Novo, o bairro aristocrático, que parece caminhar para Buarcos, assim a modos de quem quer abraçar.
Na verdade é um bairro selecto, uma pequenina miniatura desse grande bairro madrileno, chamado o bairro Salamanca.
O Bairro Novo está construído logo após o Forte de Santa Catarina, cortado de ruas largas e asseadas, e semeado de casas de uma elegância irrepreensível - próprias para gozar.
Dali viemos à praça, onde um mulherio, num zum-zum enorme, vendia peixe seco, fresco, salgado, etc., e ao mercado onde as regateiras se aninhavam ao pé das suas canastras de frutas, legumes, pão, flores, etc.
Tudo na verdade, muito asseado, muito limpo.
No meado do século passado a Figueira era uma aldeiazinha muito bonita, mas sem a importância que hoje tem. Apenas trezentos habitantes viviam ali do fruto dos banhos e da pesca.
A Figueira é uma vila essencialmente moderna, chic - apesar do fundador da monarquia portuguesa, que não era progressista como a srª D. Guilhermina, nem regenerador como o sr. Guilherme da Cunha, ter tido a honra de ir lavar os seus ossos e as suas reais carnes nestas praias ocidentais e douradas.
Ora o fundador - era nada mais, nada menos - que o sr. D. Afonso Henriques, que aí foi por conselhos dos médicos, conforme afirma frei Bernardo de Brito, nas suas Chronicas.
Estamos certos que então a Figueira não era política por dentro nem por fora, - nem o sr. Constantino Sousa, nem o sr. Costa e Silva, nem mesmo o sr. Carlos Guia -guiavam os seus amigos políticos - e outro tanto faziam os srs. Nestório, dr. Borges, João Pedro, Augusto Silvério e Contente Ribeiro, que só se contentam em apoiar os seus.
E estamos de acordo que nesse tempo a carne de vaca era toda regeneradora, e o pão, azeite, o vinagre - pois entravam só no alimento regenerador das pessoas, sem entrar nos domínios avançados da política.
Imagine-se o desconcerto que há-de ser num sapateiro que se vê obrigado a empregar fio republicano no calçado dos seus constituintes! porque, como já temos querido fazer-nos compreender na Figueira há só dois grandes partidos - o progressista e o regenerador.
Perguntamos a uma dama gentil daqui qual o motivo de tanta rixa e a razão de ser daqueles aferrados partidos na Figueira.
- Ignoro, disse ela. Só sei que quem não for da música progressista é regenerador, e quem não for da regeneradora é progressista.
Pareceu-me que a política vinha então dos saxtrompas e dos trombones, mas houve alguém que disse que era um perfeito engano nosso aquela inocentíssima persuasão.
- Mas que diacho, lhe dissémos nós, não vê que aqui tudo é político, desde o chinelinho de liga até às cuias das senhoras, desde o feijão fradinho até ao chapéu de palha do Abel! e isto talvez devido à influência da instrumentação!
- Qual instrumentação nem meia instrumentação! O amigo é que parece que anda a instrumentalr tudo.
Ora já vêem V. Ex.a. que fui entalado nas minhas asserções e então virei-me a descortinar se aquilo seria influência das gentis damas ou de alguns sonhos dourados das ex.ma. sr. Dª Ana Gaspar ou D. Augusta Guedes.
Andávamos neste engano lêdo e cego que a fortuna não deixa durar muito quando soubémos enfim que a política...

12 de jan. de 2005

A FIGUEIRA DO ANO 2001

Um texto interessante para ser lido hoje, volvidos 70 anos. Publicado no Álbum Figueirense em 1935.



Pelo Dr. Alberto Bastos

Daqui a uns 65 anos é possível que o ALBUM FIGUEIRENSE, tornado então uma espécie bibliográfica rara, caia nas mãos de algum figueirense apaixonado pelas coisas da sua terra, do seu presente e do seu passado. .
Terá, decerto, êsse meu longínquo leitor, curiosidade em saber em que pensará um figueirense de agora, sôbre o que virá a ser a Figueira de então, ou que desejaria que ela fôsse.
Não pretendemos acertar 100% das nossas previsões: temos a certeza porém de que algumas delas sairão certas. E agora, curioso leitor, a quem eu em espírito saúdo, tem paciência e lê.
O progresso da Figueira dependerá de três factores principais: a praia, o pôrto e o caminho de ferro.
A praia depois de feitas mais algumas dúzias de projectos, terá emfim uma avenida até Buarcos; muitas das casas dos Palheiros terão sido deitadas a baixo e substituídas por outras de melhor aspecto.
De Buarcos até ao Cabo Mondego seguirá uma linda avenida com algumas residências estivais. O cemitério de Buarcos terá sido mudado para outro lado, e mais adiante, despedaçada a penedia que ali existe, haverá uma linda e sossegada praia, principalmente para crianças enfraquecidas. Na estrada que vai para o Farol Novo haverá também algumas casas residências de verão de pessoas ricas, e outras permanentes de pessoas necessitadas de descanso.
Com a viação eléctrica do Cabo Mondego até à Figueira, desenvolver-se-ão extraordinariamente as construções ao longo dêste trajecto. A construção junto ao molhe norte do Forte de Santa Catarina determinará o prolongamento da praia do nas-cente para o poente, e no extremo do molhe muito aumentado em largura construirá uma companhia estrangeira o ATLÂNTIDA PALACE, principesco hotel só para gente rica.
Da doca actual ficará apenas um pequeno abrigo para bar-cos de recreio e uma esplêndida piscina onde todos os anos haverá famosas desafios internacionais de natação, senda a Figueira a terra com os melhores nadadores nacionais. O pôrto da Figueira será um das melhores de Portugal, com uma intensa navegação, principalmente de pesca, que se estenderá até ao mar de Cabo Verde.
O caminho de ferro de Oeste, prolongar-se-á até à Gala, já então com uma grande população. Os combóios que agora param na estação da Figueira seguirão até ao Cabo Mondego, passando por Tavarede e Buarcos, que por tal motivo verão a sua população consideravelmente aumentada.
As casas para habitação far-se-ão seguida a estrada da Pinhal e em tôda a zona sobranceira ao mar. Nas Abadias, com raras habitações por o local ser para isso impróprio, haverá um lindo Parque, tenda ao cima uma piscina ao ar livre para crian-ças, um pequeno lago e um campo de jogas e um balneário.
A estátua de Fernandes Tomaz feita de nova e com uma concepção mais em harmonia com a psicologia da eminente figueirense, será erecta no futuro parque, assim como um novo monumento aos Mortos da Guerra, mais artística e bela.
A Praça Nova terá sido remodelada assim como a Velha, de onde há muita terão saída as horríveis placas que tanta a desfeiam agora.
A Figueira, que terá então perto de 60.000 habitantes, junta com Buarcos e com os bairros excêntricas de Tavarede e Gala, possuirá dois Liceus Centrais, uma Escola de Artes e Ofícios, um Pôsto Agrário, uma Biblioteca e o Museu Santos Rocha, ambos em casas próprias.
Das grandes homens locais de hoje, ninguém - sempre a mesma ingratidão - se lembrará já, e a maior parte das ruas terão mudado de nomes.
A Murraceira terá o maior e melhor aeroporto de Portugal com uma escala para aviação civil.
Do que acabamos de enunciar o que se terá realizado?
Que outras modificações para melhor ou para pior se terão produzido? Só tu o saberás leitor amigo, que talvez, quem sabe, a estas horas não tenhas ainda nascido.

Figueira da Foz, Janeiro de 1935.

9 de jan. de 2005

PEDRO FERNANDES TOMÁS E A BIBLIOTECA




Em 1908 uma comissão liderada por Pedro Fernandes Tomás ofereceu ao município (era presidente da Câmara Joaquim Jardim) os seus préstimos para organizar uma biblioteca a partir de alguns livros (783 volumes guardados no Museu que então se situava no Paço) que constituíam espólio da edilidade. Da comissão faziam parte também Francisco Martins Cardoso, António Carlos Borges, Alberto Diniz da Fonseca, Eloy do Amaral e Cardoso Martha.

A inauguração da biblioteca fez-se a 1 de Maio de 1910 num edifício situado na Praça Nova logo à entrada da rua dos Ferreiros.
Em Outubro do ano seguinte a novel biblioteca mudou para o edifício dos Paços do Concelho e em 1915 voltou a mudar de poiso desta vez para a rua 10 de Agosto onde permaneceu até 1927.
No ano seguinte o espaço dos livros voltou a ser transladado, desta feita para o 1º andar do edifício dos Bombeiros Municipais frente à igreja matriz.

Muitos se lembram ainda de a biblioteca ter funcionado na Praça Velha, no 1º andar da mercearia Tomás do Café. Isto desde 1953 até 30 de Agosto de 1974, quando ficou, finalmente, no edifício onde hoje a conhecemos.
Pedro Fernandes Tomás (1853-1927), conhecido por Mestre Pedro, foi professor da escola industrial. Era um bibliófilo apaixonado e foi colaborador da imprensa local; fundou e dirigiu a revista Figueira; foi musicólogo e pesquisador do folclore português (editou na imprensa da Universidade "Canções Portuguesas do Séc. XVIII à Actualidade) e um dos fundadores da Sociedade Arqueológica. Fundou a escola maçónica figueirense "Evolução". Cultivou amizade com Miguel de Unamuno com quem trocou correspondência.

JOSÉ DE SEABRA E SILVA E A QUINTA DO CANAL



José de Seabra e Silva (1732) fez o seu doutoramento em Direito em 1751 pela Universidade de Coimbra, sessão à qual assistiu o primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Mello. Em 1771 chegou, depois de passar por outros cargos, a secretário de estado adjunto do Marquês de Pombal, o qual lhe doou a Quinta do Canal em 1769, edifício que tinha pertencido aos jesuítas e que foi confiscado à companhia após a sua expulsão do país.

Poucos anos depois, José de Seabra e Silva foi demitido, expulso da corte e degradado para Pedras Negras de Pungo Andongo, por ordem do rei D. José I.
Ao que se diz, José de Seabra comunicou à rainha um projecto de que só ele, o rei e o Marquês tinham conhecimento. Certo é que a rainha quando subiu ao trono deu perdão a José de Seabra, este voltou a Lisboa e chegou a ser Ministro de Estado dos Negócios do Reino (1788)

Em 1799 foi demitido pelo príncipe regente em virtude de ter opinado no sentido de serem ouvidas as cortes; regressou de novo à Quinta do Canal de onde não podia sair e só volvidos 5 anos o, já rei D. João VI, permitiu a sua ida para Lisboa.

Em 1807 foi convidado por Junot para ministro mas recusou e foi um dos organizadores da Sociedade Restauradora que se opunha ao domínio francês. Morreu em 1813.

Retirado de um texto de Pedro Fernandes Tomás, publicado na revista Figueira, nºs 1 e 2.

27 de dez. de 2004

A ILUMINAÇÃO A GÁS




Foi em Agosto de 1886 que a Thomas Nisham Kirkham de Londres solicitou à municipalidade a instalação da iluminação a gás. O contrato veio a ser celebrado em Dezembro e a Thomas Nisham transferiu a concessão obtida para a portuguesa Gas & Water Company Limited.

A fábrica destinada à produção do gás de iluminação veio a ser instalada na Carneira (á saída da cidade) e empregava em 1914 mais de 20 operários.

Em Junho de 1889 foi inaugurada a nova iluminação e em Outubro, sabe-se, havia já instalados 200 candeeiros. Terminava assim a iluminação a petróleo que se iniciara em 1870 com 38 candeeiros e que desapareceu por completo em 1906, não tendo passado de Buarcos e da zona da praia.