12 de jan. de 2005

A FIGUEIRA DO ANO 2001

Um texto interessante para ser lido hoje, volvidos 70 anos. Publicado no Álbum Figueirense em 1935.



Pelo Dr. Alberto Bastos

Daqui a uns 65 anos é possível que o ALBUM FIGUEIRENSE, tornado então uma espécie bibliográfica rara, caia nas mãos de algum figueirense apaixonado pelas coisas da sua terra, do seu presente e do seu passado. .
Terá, decerto, êsse meu longínquo leitor, curiosidade em saber em que pensará um figueirense de agora, sôbre o que virá a ser a Figueira de então, ou que desejaria que ela fôsse.
Não pretendemos acertar 100% das nossas previsões: temos a certeza porém de que algumas delas sairão certas. E agora, curioso leitor, a quem eu em espírito saúdo, tem paciência e lê.
O progresso da Figueira dependerá de três factores principais: a praia, o pôrto e o caminho de ferro.
A praia depois de feitas mais algumas dúzias de projectos, terá emfim uma avenida até Buarcos; muitas das casas dos Palheiros terão sido deitadas a baixo e substituídas por outras de melhor aspecto.
De Buarcos até ao Cabo Mondego seguirá uma linda avenida com algumas residências estivais. O cemitério de Buarcos terá sido mudado para outro lado, e mais adiante, despedaçada a penedia que ali existe, haverá uma linda e sossegada praia, principalmente para crianças enfraquecidas. Na estrada que vai para o Farol Novo haverá também algumas casas residências de verão de pessoas ricas, e outras permanentes de pessoas necessitadas de descanso.
Com a viação eléctrica do Cabo Mondego até à Figueira, desenvolver-se-ão extraordinariamente as construções ao longo dêste trajecto. A construção junto ao molhe norte do Forte de Santa Catarina determinará o prolongamento da praia do nas-cente para o poente, e no extremo do molhe muito aumentado em largura construirá uma companhia estrangeira o ATLÂNTIDA PALACE, principesco hotel só para gente rica.
Da doca actual ficará apenas um pequeno abrigo para bar-cos de recreio e uma esplêndida piscina onde todos os anos haverá famosas desafios internacionais de natação, senda a Figueira a terra com os melhores nadadores nacionais. O pôrto da Figueira será um das melhores de Portugal, com uma intensa navegação, principalmente de pesca, que se estenderá até ao mar de Cabo Verde.
O caminho de ferro de Oeste, prolongar-se-á até à Gala, já então com uma grande população. Os combóios que agora param na estação da Figueira seguirão até ao Cabo Mondego, passando por Tavarede e Buarcos, que por tal motivo verão a sua população consideravelmente aumentada.
As casas para habitação far-se-ão seguida a estrada da Pinhal e em tôda a zona sobranceira ao mar. Nas Abadias, com raras habitações por o local ser para isso impróprio, haverá um lindo Parque, tenda ao cima uma piscina ao ar livre para crian-ças, um pequeno lago e um campo de jogas e um balneário.
A estátua de Fernandes Tomaz feita de nova e com uma concepção mais em harmonia com a psicologia da eminente figueirense, será erecta no futuro parque, assim como um novo monumento aos Mortos da Guerra, mais artística e bela.
A Praça Nova terá sido remodelada assim como a Velha, de onde há muita terão saída as horríveis placas que tanta a desfeiam agora.
A Figueira, que terá então perto de 60.000 habitantes, junta com Buarcos e com os bairros excêntricas de Tavarede e Gala, possuirá dois Liceus Centrais, uma Escola de Artes e Ofícios, um Pôsto Agrário, uma Biblioteca e o Museu Santos Rocha, ambos em casas próprias.
Das grandes homens locais de hoje, ninguém - sempre a mesma ingratidão - se lembrará já, e a maior parte das ruas terão mudado de nomes.
A Murraceira terá o maior e melhor aeroporto de Portugal com uma escala para aviação civil.
Do que acabamos de enunciar o que se terá realizado?
Que outras modificações para melhor ou para pior se terão produzido? Só tu o saberás leitor amigo, que talvez, quem sabe, a estas horas não tenhas ainda nascido.

Figueira da Foz, Janeiro de 1935.