19 de abr. de 2005

FORTIM DE PALHEIROS




Conheceu vários nomes: Fortim da Praia, Fortim do Centro, Reduto Central da Praia; Há quem assegure que se deve a D. Miguel a construção deste reduto de defesa da costa mas não é líquida esta opinião, pois outros encontram-no feito antes das guerras liberais.

O Fortim, que era composto por uma bateria semi-circular, possuia dez bocas de fogo, muralha e parapeitos e ainda uma casa da guarda;contribuia para a defesa da enseada da Figueira a par do Forte de Stª Catarina e do Forte de Buarcos. A sua acção era conjugada com o apoio da infantaria e da cavalaria impedindo eventuais desembarques.
Em 1909 o rei D. Manuel vendeu o fortim em hasta pública tendo-o adquirido Joaquim Sotto Maior pela quantia de quinhentos mil e cem reis.

Foi por duas vezes consagrado como imóvel classificado de interesse público mas tal não o afastou do abandono e do esquecimento.A construção da urbanização da Mata do Sotto Mayor deu o golpe final ao monumento. Restam as pedras que se vêem na imagem.

12 de abr. de 2005

O ESTADO DA NAÇÃO SEGUNDO FERNANDES THOMAS




"O senhor Fernandes Thomaz concluio a leitura do Relatorio ácerca do Estado Publico de Portugal, que se mandou dar ao prelo, e he do theor seguinte:
RELATORIO.
Semhores = O dia 1.º de Outubro do anno de 1820, reunindo em hum só os Governos Provisorios do Porto e de Lisboa, marca em Portugal a epocha para sempre memoravel, de huma nova administração publica, encarregada á Junta Provisional. Como participante de seus honrosos trabalhos, e como orgão della na Repartição do Interior, e da Fazenda, cabe-me em sorte a obrigação de indicar-vos sua conducta, na difficultosa tarefa de que foi incumbida - Lançarei ao mesmo tempo para vossa informação huma vista rapida sobre o estado do reyno, nestes dous interessantissimos objectos; e eu me consideraria feliz se pudesse fazer, tão dignamente como devo a Vós, e á Nação que representais, esta breve mas franca exposição, para a qual he indispensavel que eu chame a vossa attenção.
As causas, que produzirão nossa revolução venturosa, não são desconhecidas de hum só de nossos concidadãos, porque cada hum, na parte que lhe tocava, sentia sobre si o peso enorme das desgraças que affligião Portugal; e nenhum deixa hoje de estar convencido de que era chegado o ultimo instante da existencia politica desta infeliz Patria, se o braço do Omnipotente, confundindo projectos insensatos, não arrancasse das bordas do abysmo tão precioso deposito, para o entregar á vossa guarda, e vigilancia.
Males de toda a ordem se experimentão em todos os ramos da economia particular do Estado, porque a ignorancia, e a immoralidade tudo tinhão contaminado, corrompido tudo. Erros de seculos, e que por seculos havião adquirido a força, e o imperio dos habitos, não podião emendar-se em tres mezes. - A corrupção espalhada por todo o corpo politico não podia debellar-se completamente tem remedios lentos e geraes, porque o veneno atacára ao mesmo tempo toda a massa do sangue, e todo o systema vital.
Assim o Governo, meramente Provisorio desde sua creação, e desde ella tambem pouco poderoso, pela certeza de sua curta duração, não podia obrar com aquella energia que pedem as reformas; e muito mais porque a cada passo se via obrigado a desviar-se das vagas encapelladas das facções, mais impetuosas ainda no meio dos embates de huma revolução começada. - Limitava-se por tanto a pouco mais do que á emenda dos abusos; porque as providencias de universal influencia sobre a sorte da Nação ficavão fóra do seu alcance. Vereis por tanto nesta parte, Senhores, mais o que vos ficou para fazer, do que aquillo que o Governo fez.

RESPOSTA AO ULTIMATUM INGLÊS




Manifesto aprovado pela Associação Comercial aquando do ultimato inglês

“…) tendo em vista:
(…) Que o procedimento violento que usou para com Portugal é incoerente e indigno duma nação civilizada; porque quando a ciência, a diplomacia mais avançada e o sentir geral dos povos cultos procuram substituir à força o direito, à guerra brutal a arbitragem, a Inglaterra que, já do congresso de Paris de 1856, aderira ao protocolo, nº 23, ao voto das potências que nele intervieram de, em qualquer pendência entre os estados, se recorrer a uma potência amiga, antes de usar da força pratica o contrário, preferindo vencer-nos pelo terror e pela imposição da força bruta, a convencer-nos em discussão pacífica e honrosa da legitimidade das suas pretensões o mundo civilizado; (…)

Aderir à liga patriótica, tomando parte no movimento geral do país para os fins que forem convenientemente regulados, abrindo subscrição entre os comerciantes, industriais e proprietários do concelho, cujo produto fará parte da grande subscrição nacional.


A subscrição referida destinou-se à compra de armamento e rendeu 864$710 reis.

30 de jan. de 2005

A DILIGÊNCIA DE COIMBRA À FIGUEIRA



"Viemos ao Natividade à rua da Sofia e tirámos bilhete para a Figueira. Imaginem os leitores seis sujeitos e duas senhoras apertadamente encaixilhados na caixa interior do carro e verão se não arriscavam de morrer asfixiados por um calor descomunal, imenso.
Pois apesar de partirmos à 1 da tarde, aquele calor do dia suavizou-se em o mais agradável cavaco, em a mais alegre convivência dos oito passageiros...

Ao sairmos de Coimbra foram instalados 14 passageiros na coberta do carro, o que dava a totalidade de 28 pernas penduradas à vontade, em todas as direcções do carro, como se fossem pingentes ou filigranas.
Não pudemos suportar então a liberdade daquelas pernas que vinham até nossas cabeças e no auge do nosso protesto, perguntámos ao vizinho defronte se aquilo era proibido.
- É, e tanto que meteram os passageiros fora de portas para a polícia não intervir.
- Mas intervenho eu, disse o companheiro António, tirando o seu bonet de seda e pasando a mão pela testa, toda cheia de globulos de suor, como diamantes ou como gotas de orvalho espreguiçadas nas folhas de uma couve ao sol brilhante de Abril.
- Não faça caso acudiu um respeitavel prior que ia também de viagem; atice-lhe quatro lambadas boas; e essas pernas se recolherão como corninhos de caracóis.
E assim foi.

Passámos ao Choupal, o poético e maravilhoso lugar tão cantado por poetas e prosadores(...). E assim chegámos a Lavariz, a estaçaõ da muda de cavalos.
Dali em diante iam em cima só 4 passageiros que se acomodaram melhor. Começou então o ataque às rabanadas e laranjas duma passageira da Figueira (...) os arrozais com as suas águas estagnadas, pareciam espelhos encaixilhados na terra - e o sol fotografava fortemente os seus raios naqueles caixilhos(...) A estrada muito alongada, muito direita, era abordada de choupos - perdendo-se lá ao fim entre a ramagem das árvores.
A frescura da vegetação e muitos grandes cactus que adornam a estrada dão-lhe um tom de perspectiva admirável.
Os balanços do carro tiravam-nos muitas vezes da respeitosa admiração em que íamos(...)

Chegamos à Figueira (Praça Nova, junto à rua das Flores) entre os raios dourados do sol que se ia escondendo e o oferecimento generoso de valentes mocetonas que estendiam os braços vermelhos, quase cor de lagosta, para nos levar as malas e até a nós, se caíssemos nessa doce condescêndencia.

Texto do Sr. Pist, já citado

23 de jan. de 2005

O BAIRRO NOVO E A COMPANHIA EDIFICADORA



A Companhia Edificadora Figueirense foi fundada em 1868 com o objectivo de "promover diversos melhoramentos materiais na Figueira, e com a especialidade de dar desenvolvimento à formação do novo bairro de Santa Catarina, já principiado na parte ocidental da vida, e contíguo à praia de banhos, construindo casas de habitação e outros edifícios e comodidades para os banhistas e moradores no referido bairro".

Na fundação da Companhia estavam o Eng. Francisco Maria Pereira da Silva (de Lisboa, mas a residir na Figueira, o primeiro a construir uma moradia no Bairro Novo), António Ricardo da Graça e Augusto César dos Santos, de Lisboa, Dr. Francisco António Dinis e José Jacinto da Silva, ambos de Coimbra, Dr. António Lopes Guimarães, Bernardino Teixeira Ferraz, João Fernandes Gaspar, Bacharel Lucas Fernandes das Neves e António Ferreira de Oliveira, da Figueira.

Nos seus estatutos a Companhia propunha-se construir "habitações adequadas para banhistas, com mais ou menos acomodações – tipos para habitação de artistas, homens de mar e operários – tipo para cocheiras e cavalariças; um edifício com quartos independentes para hóspedes, e com amplas salas, ou recintos dispostos para refeições, bebidas, jogos permitidos e concertos de música; um albergue para as classes menos abastadas, um mercado e casas; um estabelecimento para banhos frios e quentes".

Em 2 de Abril de 1869 o presidente da Câmara, Dr. José Joaquim Borges, colocou a primeira pedra duma casa na cerimónia que marcou a construção do Bairro Novo. Era um edifício construído no local onde veio a ser o Hotel Portugal, hoje edifício do Health Club.

O Bairro Novo veio tirar protagonismo às praças na vida social da Figueira. Os cafés e estabelecimentos das praças mudaram para a alta e a colina, que se impunha ao mar, deixou de estar deserta. A construção do Bairro Novo iria permitir a abertura duma nova frente citadina, a frente de mar, e condicionar o crescimento da cidade no século XX.

16 de jan. de 2005

FIGUEIRA VISTA POR DENTRO E POR FORA



Excerto de uma reportagem publicada na Gazeta Ilustrada “O ATHENEU” do Porto em 1881(último ano da Figueira enquanto vila) assinada pelo Sr. Pist. o autor faz ironia com a divisão maniqueísta entre Progressistas e Regeneradores.

No dia seguinte ao da nossa chegada fomos logo de manhã cedo ver o Bairro Novo, o bairro aristocrático, que parece caminhar para Buarcos, assim a modos de quem quer abraçar.
Na verdade é um bairro selecto, uma pequenina miniatura desse grande bairro madrileno, chamado o bairro Salamanca.
O Bairro Novo está construído logo após o Forte de Santa Catarina, cortado de ruas largas e asseadas, e semeado de casas de uma elegância irrepreensível - próprias para gozar.
Dali viemos à praça, onde um mulherio, num zum-zum enorme, vendia peixe seco, fresco, salgado, etc., e ao mercado onde as regateiras se aninhavam ao pé das suas canastras de frutas, legumes, pão, flores, etc.
Tudo na verdade, muito asseado, muito limpo.
No meado do século passado a Figueira era uma aldeiazinha muito bonita, mas sem a importância que hoje tem. Apenas trezentos habitantes viviam ali do fruto dos banhos e da pesca.
A Figueira é uma vila essencialmente moderna, chic - apesar do fundador da monarquia portuguesa, que não era progressista como a srª D. Guilhermina, nem regenerador como o sr. Guilherme da Cunha, ter tido a honra de ir lavar os seus ossos e as suas reais carnes nestas praias ocidentais e douradas.
Ora o fundador - era nada mais, nada menos - que o sr. D. Afonso Henriques, que aí foi por conselhos dos médicos, conforme afirma frei Bernardo de Brito, nas suas Chronicas.
Estamos certos que então a Figueira não era política por dentro nem por fora, - nem o sr. Constantino Sousa, nem o sr. Costa e Silva, nem mesmo o sr. Carlos Guia -guiavam os seus amigos políticos - e outro tanto faziam os srs. Nestório, dr. Borges, João Pedro, Augusto Silvério e Contente Ribeiro, que só se contentam em apoiar os seus.
E estamos de acordo que nesse tempo a carne de vaca era toda regeneradora, e o pão, azeite, o vinagre - pois entravam só no alimento regenerador das pessoas, sem entrar nos domínios avançados da política.
Imagine-se o desconcerto que há-de ser num sapateiro que se vê obrigado a empregar fio republicano no calçado dos seus constituintes! porque, como já temos querido fazer-nos compreender na Figueira há só dois grandes partidos - o progressista e o regenerador.
Perguntamos a uma dama gentil daqui qual o motivo de tanta rixa e a razão de ser daqueles aferrados partidos na Figueira.
- Ignoro, disse ela. Só sei que quem não for da música progressista é regenerador, e quem não for da regeneradora é progressista.
Pareceu-me que a política vinha então dos saxtrompas e dos trombones, mas houve alguém que disse que era um perfeito engano nosso aquela inocentíssima persuasão.
- Mas que diacho, lhe dissémos nós, não vê que aqui tudo é político, desde o chinelinho de liga até às cuias das senhoras, desde o feijão fradinho até ao chapéu de palha do Abel! e isto talvez devido à influência da instrumentação!
- Qual instrumentação nem meia instrumentação! O amigo é que parece que anda a instrumentalr tudo.
Ora já vêem V. Ex.a. que fui entalado nas minhas asserções e então virei-me a descortinar se aquilo seria influência das gentis damas ou de alguns sonhos dourados das ex.ma. sr. Dª Ana Gaspar ou D. Augusta Guedes.
Andávamos neste engano lêdo e cego que a fortuna não deixa durar muito quando soubémos enfim que a política...

12 de jan. de 2005

A FIGUEIRA DO ANO 2001

Um texto interessante para ser lido hoje, volvidos 70 anos. Publicado no Álbum Figueirense em 1935.



Pelo Dr. Alberto Bastos

Daqui a uns 65 anos é possível que o ALBUM FIGUEIRENSE, tornado então uma espécie bibliográfica rara, caia nas mãos de algum figueirense apaixonado pelas coisas da sua terra, do seu presente e do seu passado. .
Terá, decerto, êsse meu longínquo leitor, curiosidade em saber em que pensará um figueirense de agora, sôbre o que virá a ser a Figueira de então, ou que desejaria que ela fôsse.
Não pretendemos acertar 100% das nossas previsões: temos a certeza porém de que algumas delas sairão certas. E agora, curioso leitor, a quem eu em espírito saúdo, tem paciência e lê.
O progresso da Figueira dependerá de três factores principais: a praia, o pôrto e o caminho de ferro.
A praia depois de feitas mais algumas dúzias de projectos, terá emfim uma avenida até Buarcos; muitas das casas dos Palheiros terão sido deitadas a baixo e substituídas por outras de melhor aspecto.
De Buarcos até ao Cabo Mondego seguirá uma linda avenida com algumas residências estivais. O cemitério de Buarcos terá sido mudado para outro lado, e mais adiante, despedaçada a penedia que ali existe, haverá uma linda e sossegada praia, principalmente para crianças enfraquecidas. Na estrada que vai para o Farol Novo haverá também algumas casas residências de verão de pessoas ricas, e outras permanentes de pessoas necessitadas de descanso.
Com a viação eléctrica do Cabo Mondego até à Figueira, desenvolver-se-ão extraordinariamente as construções ao longo dêste trajecto. A construção junto ao molhe norte do Forte de Santa Catarina determinará o prolongamento da praia do nas-cente para o poente, e no extremo do molhe muito aumentado em largura construirá uma companhia estrangeira o ATLÂNTIDA PALACE, principesco hotel só para gente rica.
Da doca actual ficará apenas um pequeno abrigo para bar-cos de recreio e uma esplêndida piscina onde todos os anos haverá famosas desafios internacionais de natação, senda a Figueira a terra com os melhores nadadores nacionais. O pôrto da Figueira será um das melhores de Portugal, com uma intensa navegação, principalmente de pesca, que se estenderá até ao mar de Cabo Verde.
O caminho de ferro de Oeste, prolongar-se-á até à Gala, já então com uma grande população. Os combóios que agora param na estação da Figueira seguirão até ao Cabo Mondego, passando por Tavarede e Buarcos, que por tal motivo verão a sua população consideravelmente aumentada.
As casas para habitação far-se-ão seguida a estrada da Pinhal e em tôda a zona sobranceira ao mar. Nas Abadias, com raras habitações por o local ser para isso impróprio, haverá um lindo Parque, tenda ao cima uma piscina ao ar livre para crian-ças, um pequeno lago e um campo de jogas e um balneário.
A estátua de Fernandes Tomaz feita de nova e com uma concepção mais em harmonia com a psicologia da eminente figueirense, será erecta no futuro parque, assim como um novo monumento aos Mortos da Guerra, mais artística e bela.
A Praça Nova terá sido remodelada assim como a Velha, de onde há muita terão saída as horríveis placas que tanta a desfeiam agora.
A Figueira, que terá então perto de 60.000 habitantes, junta com Buarcos e com os bairros excêntricas de Tavarede e Gala, possuirá dois Liceus Centrais, uma Escola de Artes e Ofícios, um Pôsto Agrário, uma Biblioteca e o Museu Santos Rocha, ambos em casas próprias.
Das grandes homens locais de hoje, ninguém - sempre a mesma ingratidão - se lembrará já, e a maior parte das ruas terão mudado de nomes.
A Murraceira terá o maior e melhor aeroporto de Portugal com uma escala para aviação civil.
Do que acabamos de enunciar o que se terá realizado?
Que outras modificações para melhor ou para pior se terão produzido? Só tu o saberás leitor amigo, que talvez, quem sabe, a estas horas não tenhas ainda nascido.

Figueira da Foz, Janeiro de 1935.

9 de jan. de 2005

PEDRO FERNANDES TOMÁS E A BIBLIOTECA




Em 1908 uma comissão liderada por Pedro Fernandes Tomás ofereceu ao município (era presidente da Câmara Joaquim Jardim) os seus préstimos para organizar uma biblioteca a partir de alguns livros (783 volumes guardados no Museu que então se situava no Paço) que constituíam espólio da edilidade. Da comissão faziam parte também Francisco Martins Cardoso, António Carlos Borges, Alberto Diniz da Fonseca, Eloy do Amaral e Cardoso Martha.

A inauguração da biblioteca fez-se a 1 de Maio de 1910 num edifício situado na Praça Nova logo à entrada da rua dos Ferreiros.
Em Outubro do ano seguinte a novel biblioteca mudou para o edifício dos Paços do Concelho e em 1915 voltou a mudar de poiso desta vez para a rua 10 de Agosto onde permaneceu até 1927.
No ano seguinte o espaço dos livros voltou a ser transladado, desta feita para o 1º andar do edifício dos Bombeiros Municipais frente à igreja matriz.

Muitos se lembram ainda de a biblioteca ter funcionado na Praça Velha, no 1º andar da mercearia Tomás do Café. Isto desde 1953 até 30 de Agosto de 1974, quando ficou, finalmente, no edifício onde hoje a conhecemos.
Pedro Fernandes Tomás (1853-1927), conhecido por Mestre Pedro, foi professor da escola industrial. Era um bibliófilo apaixonado e foi colaborador da imprensa local; fundou e dirigiu a revista Figueira; foi musicólogo e pesquisador do folclore português (editou na imprensa da Universidade "Canções Portuguesas do Séc. XVIII à Actualidade) e um dos fundadores da Sociedade Arqueológica. Fundou a escola maçónica figueirense "Evolução". Cultivou amizade com Miguel de Unamuno com quem trocou correspondência.

JOSÉ DE SEABRA E SILVA E A QUINTA DO CANAL



José de Seabra e Silva (1732) fez o seu doutoramento em Direito em 1751 pela Universidade de Coimbra, sessão à qual assistiu o primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Mello. Em 1771 chegou, depois de passar por outros cargos, a secretário de estado adjunto do Marquês de Pombal, o qual lhe doou a Quinta do Canal em 1769, edifício que tinha pertencido aos jesuítas e que foi confiscado à companhia após a sua expulsão do país.

Poucos anos depois, José de Seabra e Silva foi demitido, expulso da corte e degradado para Pedras Negras de Pungo Andongo, por ordem do rei D. José I.
Ao que se diz, José de Seabra comunicou à rainha um projecto de que só ele, o rei e o Marquês tinham conhecimento. Certo é que a rainha quando subiu ao trono deu perdão a José de Seabra, este voltou a Lisboa e chegou a ser Ministro de Estado dos Negócios do Reino (1788)

Em 1799 foi demitido pelo príncipe regente em virtude de ter opinado no sentido de serem ouvidas as cortes; regressou de novo à Quinta do Canal de onde não podia sair e só volvidos 5 anos o, já rei D. João VI, permitiu a sua ida para Lisboa.

Em 1807 foi convidado por Junot para ministro mas recusou e foi um dos organizadores da Sociedade Restauradora que se opunha ao domínio francês. Morreu em 1813.

Retirado de um texto de Pedro Fernandes Tomás, publicado na revista Figueira, nºs 1 e 2.

27 de dez. de 2004

A ILUMINAÇÃO A GÁS




Foi em Agosto de 1886 que a Thomas Nisham Kirkham de Londres solicitou à municipalidade a instalação da iluminação a gás. O contrato veio a ser celebrado em Dezembro e a Thomas Nisham transferiu a concessão obtida para a portuguesa Gas & Water Company Limited.

A fábrica destinada à produção do gás de iluminação veio a ser instalada na Carneira (á saída da cidade) e empregava em 1914 mais de 20 operários.

Em Junho de 1889 foi inaugurada a nova iluminação e em Outubro, sabe-se, havia já instalados 200 candeeiros. Terminava assim a iluminação a petróleo que se iniciara em 1870 com 38 candeeiros e que desapareceu por completo em 1906, não tendo passado de Buarcos e da zona da praia.

26 de dez. de 2004

MONDEGO, VIA FLUVIAL



Em 1868 tentou-se estabelecer uma carreira fluvial a vapor ligando a Figueira a Coimbra. A façanha voltou a ser tentada pelo cap. da marinha mercante Elísio Santos Fera, em 1872, pretendendo ligar a Figueira a Montemor e, no Inverno, a Coimbra. A pouca navegabilidade do rio e a sua dependência das marés nunca deixaram estes projectos chegar a bom porto.

A via fluvial era, no entanto, a utilizada para ligar as duas margens do Mondego. Havia uma linha que ligava o cabedelo ao cais da Figueira e que só desapareceu com a ponte e outra que ligava os Armazéns de Lavos ao mesmo cais, a qual utilizava o braço sul do rio e que era feita por dois barcos. Existiam ainda outras ligações fluviais como as que ligavam o Canal, a Barra e o Alqueidão à cidade. Do sul trazia-se vinho, leguminosas, batata, fruta, madeira e arroz.

O rio tinha permitido anteriormente a vinda até à foz, em barcos à vela, do produto dos vinhedos do Dão, das laranjas de Coimbra e dos tecidos da Covilhã, Mangualde e Guarda. Para o interior, os barcos levavam sardinha, bacalhau, sal, arroz e figos. Já com o século XX entrado ainda havia uma carreira que ligava Stº Varão à Figueira e que transportava entre cargas, os banhistas que acorriam à praia da Figueira.

O CABO MONDEGO



Os primeiros trabalhos na mina do Cabo Mondego começaram em 1773 por impulso do Marquês de pombal e sob a orientação de Domingos Vandelli e Guilherme Elsden, na altura mestres da Universidade de Coimbra.
Os resultados não se revelaram animadores até 1802 altura em que os trabalhos foram abandonados pois a mina inundava frequentemente.

Em 1802 é nomeado encarregado das minas José Bonifácio de Andrade e Silva, tendo este construído uma fábrica de tijolo e telha e um forno de cal e mandado cultivar o Prazo de Stº Amaro para sustento dos animais que auxiliavam os trabalhos.
Andrade e Silva parte para o Brasil em 1819 e a exploração mineira pára. Em 1825 o Estado cedeu a exploração a particulares em regime de arrendamento. Foi em 1825 que surgiu a quezília entre o Povo de Quiaios e a administração da mina resultante de uma petição feita por aquele ao rei D. João VI para a restituição dos terrenos do Prazo de Stª Marinha.

Durante 13 anos a mina esteve parada. Em 1838 Jacinto Dias Damásio, concessionário da Empresa Conde Farrobo, activou a Mina Mondego, a Mina Esperança e a Mina Farrobo. No entanto, em 1845, os trabalhos foram paralisados.

Em 1867 o Conde Farrobo cede os seus direitos a João Pereira Caldas contra o pagamento de 1 conto de reis a partir do quinto ano de exploração. Em 1870 foi criada a Empresa Minas de Carvão do Cabo Mondego. Em 1872 foi criado o caminho de ferro americano entre a mina e a Figueira. No ano seguinte foi criada a Companhia Mineira e Industrial do Cabo Mondego. Em 1874 esta companhia adquire um forno de cal existente no local onde é hoje a esplanada.

Foi esta companhia que deu o grande salto do complexo industrial do cabo Mondego explorando a Mina, uma fábrica de vidros (vidraça e garrafa preta), tijolaria (situada em Buarcos; os barreiros da fábrica ficavam onde é hoje o estádio municipal), cal e exploração do caminho de ferro.

20 de dez. de 2004

CORSÁRIOS EM MAUS LENÇÓIS




Em 30 de Maio de 1798, o iate Pancão que levava carvão de pedra da mina de Buarcos para os arsenais do exército e da marinha foi capturado por um corsário francês frente à Vieira.

Logo que se soube da captura o tenente da guarnição de Buarcos, José Correia Soares, meteu mãos à obra e reuniu os homens necessários para perseguir os corsários. Escolheu-se uma rasca de pesca tendo os homens da companha munido-se de espadas e espingardas. A eles se juntaram doze soldados e dois cabos de esquadra.

Rezam as crónicas que o iate foi encontrado a uma légua a norte de Buarcos e que depois de travada uma briga desesperada que durou um quarto de hora a bandeira portuguesa se sobrepôs à bandeira francesa.

A escuna pirata ainda tentou disparar sobre a rasca mas José Correia guinou-a para as pedras e ali se acoitou até ser noite, juntamente com o iate. A batalha provocou alguns feridos e mortos. Correia Soares foi promovido a Capitão e os marinheiros e soldados envolvidos foram gratificados pelo Príncipe regente.

13 de dez. de 2004

O INCÊNDIO DA SERRA




O alerta de que tinha deflagrado um incêndio no sopé setentrional da Serra da Boa Viagem foi dado cerca das 20h25 do dia 20 de Julho. A eclosão do incêndio deu-se no lugar de Barrocas, próximo da estrada de Quiaios-Praia de Quiaios. O solo possuia uma densa camada de manta morta, imprimindo grandes proporções ao incêndio logo no seu início. O desenvolvimento do incêndio continuou ao longo de toda a noite.


Na manhã do dia 21 havia duas frentes, uma de maior intensidade em direcção a leste, outra mais lenta em direcção à povoação da Murtinheira. Às 16h00 eclodiu nova frente desta vez no lugar de Monte Alto.
Na encosta norte, a falta de vigilância e os ventos fortes possibilitaram o reacendimento de vários focos. Às 21h00 já o fogo atingia grandes proporções.
Cerca das 12h00 do dia 22 o fogo já se encontrava muito próximo da Murtinheira.


A partir do momento em que o incêndio entrou na Serra tornou-se incontrolável, formando-se várias frentes em diferentes direcções.
O chalet de caça ardeu cerca das 18h30. Nos Vais uma frente limpou 7 casas. Pelas 21h30 o fogo aproximou-se da povoação da Serra.


O incêndio da serra foi um incêndio de copas, varrendo a maior parte da serra em apenas 3 a 4 horas, continuando a lavrar, nos dias seguintes pois só viria a ser dado como extinto às 12h00 do dia 24. Durante 71 horas e 35 minutos, decorridos entre os dias 20 a 24 de Julho de 1993, 1173,5 ha da floresta da Serra foram percorridos pelo fogo.


texto de Adélia Nunes(adapt)

3 de dez. de 2004

D. AFONSO HENRIQUES NA FIGUEIRA




Lê-se na Crónica de Cister de Frei Bernardo de Brito, livro VI do capítulo XXVIII, que estando D. Afonso Henriques em Coimbra “Tão carregado de triunfos como de más disposições” foi aconselhado pelos médicos a fazer um passeio ao longo do Mondego até á foz.

Diz então o cronista que, “a vista e alegre sitio dos campos e várzeas formosíssimas”, “as mais férteis e abundantes que há em todo o reino de Portugal e muitas partes fora dele”, “tiraram a el-Rei parte da melancolia que levava”. E continua Frei Bernardo que o Conquistador “chegou ao mar quase são”, tendo completado a sua cura “em recreação do rio e monte”.

2 de dez. de 2004

AS PRAIAS DO SUL





No final do terceiro quartel do século XVIII, o litoral ao sul da Figueira era uma terra árida de ninguém.

Com o advento das artes de arrastar para terra e com a adaptação a estas dos barcos em forma de meia lua, as costas do couto de Lavos, a poente das Regalheiras, fervilharam em arrais de intensa vida na pesca e industria da sardinha.

Diversas companhas foram formadas pelos lavoenses de melhores posses. Estes, no entanto, eram rurais e não tiveram outra hipótese senão a de contratar pescadores qualificados. Na impossibilidade de contratar pescadores de Buarcos que não queriam abandonar o abrigo da sua enseada por outros portos, os armadores de Lavos contrataram ilhavenses.

Assim, ainda no princípio do século passado trabalhavam muitos ilhavenses em companhas da Costa ou de Leirosa. Encontram-se por aí, ainda, muitos antropónimos ilhavenses como os Ribeiros, os Parrachos e os Cações e a maioria esmagadora da população de S. Pedro é de origem ilhavense.

Durante muito tempo as companhas acoitavam-se nas praias do sul em palhoças feitas de junco, só cerca dos anos 30 de 1800 se deu a fixação dos pescadores.

14 de nov. de 2004

A ARBORIZAÇÃO DA FIGUEIRA



Se o leitor fosse de fora da terra, e visitasse a vila da Figueira no verão do ano da graça de 1849, num dia de sol ardente, debalde procuraria um largo, ou praça pública, que lhe proporcionasse a sombra duma árvore amiga a protegê-lo dos raios abrasadores do astro-rei.

O que hoje é a avenida Saraiva de Carvalho, rua Fernandes Tomás e rua da República, formava, com o que ainda existe, o lindo e imponente estuário do Mondego daqueles tempos.

O actual passeio Infante D. Henrique ou Jardim Público, era então, e até não há muitos anos, uma doca natural em miniatura, mal servindo de abrigo às catraias dos pilotos da barra, de estaleiro e de conserto de bateis e pouco mais.

A Praça do Comércio e a Praça Nova apenas marcavam como centros onde convergia toda a actividade mercantil da época, e não se prestavam, por inestéticas e desprovidas de qualquer embelezamento, a servirem de salas de visitas da urbe, aos inúmeros forasteiros que das Beiras e doutros pontos do país aqui acudiam, movidos pelos seus negócios.

Havia só mais dois largos na vila – o Pátio de Stº António e o Adro da Igreja Matriz – mas ambos votados ao mais deplorável abandono!
Imagine-se que, proeminentes às ruas que os circundam, nenhum destes largos era murado, e que apenas umas sebes de silvados e piteiras, onde um ou outro morador vizinho, menos asseado, fazia despejo do, lixo, lhe amparavam o terreno impedindo-o de se desagregar.

Assim, o Pátio de Stº António não desdizia da cerca do Convento que lhe ficava contígua, e da qual se tinha alienado o cemitério que, ainda catorze anos depois de consagrado ao seu piedoso fim era frequentemente designado pelos bem significativos nomes de Cardal publico e Cardal da Ordem Terceira desta vila.

Do adro da Igreja matriz fala-nos a petição que a Junta da Paróquia de 1849 dirige à Câmara Municipal instando pela construção do muro que hoje lhe serve de suporte, a fim de pôr termo à escandalosa indecência em que o exterior do templo se encontrava, enxovalhado por toda a casta de imundícies.

(...)O muro fez-se, a final e o adro foi arborizado, seguindo-se lhe depois a praça do Comércio. (...) Em 1868 foi metade da cerca do hospital da Misericórdia plantada com eucaliptos formando-se a linda mata que o grande escritor Pinheiro Chagas, por ocasião da sua visita à Figueira em 1888 tanto enalteceu.

Em 1890, com o desaterro do terreno hoje ocupado pelo Mercado e algumas casas da rua Cândido dos Reis é aterrada a doca da Paria das Fonte, que se transforma no jardim municipal actual.

(...) Também digno de menção é o facto de na Mata da Misericórdia se terem plantado há uns sete anos, mais umas 5.497 árvores, por iniciativa do seu dedicado provedor Sr. Maurício Pinto (...).

João Coelho, in Álbum Figueirense, 1934

5 de nov. de 2004

A SOCIEDADE ARQUEOLÓGICA FIGUEIRENSE



A Sociedade Arqueológica Figueirense foi fundada em Fevereiro de 1898, mas a ideia da sua fundação terá surgido no espírito de Santos Rocha (NA FOTO) no ano anterior.

Os fundadores da Sociedade foram: António Duarte Silva, António Santos Rocha, Francisco Ferreira Loureiro, Pedro Fernandes Tomás, Augusto Goltz de Carvalho, José Maria Luiz de Almeida, António Gonçalves, Frederico Nogueira de Carvalho, José Pereira Jardim e Sotero de Oliveira.

A Sociedade visava, para além da prossecução de estudos arqueológicos, auxiliar o desenvolvimento do museu municipal. Na primeira sessão foram apresentadas e lidas várias comunicações: As arcainhas do Seixo e Sobreda, Mobiliário neolítico no vale inferior do Mondego, Primeiros vestígios da época do cobre nas cercanias da Figueira, Vestígios da época do bronze em Alvaiázere, Estação luso-romana do Bacellinho, Novos vestigíos romanos no vale inferior do Mondego, todas por Santos Rocha; Sinais gravados em pedras, por Goltz de Carvalho; Inscrições e emblemas existentes nos sinos das igrejas do concelho, por Pedro Fernandes Tomás; Um azulejo do século XVII, por Ferreira Loureiro e As moedas recolhidas nas sepulturas no sítio da igreja velha, no Negrote, por Duarte Silva.

Desta primeira sessão se pode aquilatar o valor da Sociedade, o qual ficou empobrecido com a morte de Santos Rocha em Março de 1910, numa altura em que a instituição se preparava para realizar a sua 15ª sessão.

30 de out. de 2004

DOIS TEATROS DA FIGUEIRA




O primeiro teatro que a Figueira da Foz conheceu foi o chamado Grémio Lusitano situado na Casa do Paço. Foi construído entre 1820 e 1823 e foi estreado com a tragédia “Nova Castro”. O teatro viria a ser vítima de um incêndio, em 1860, mas os camarotes e a plateia escaparam pelo que o Grémio continuou a sua actividade cultural.

Igual sorte teve o Teatro Príncipe D. Carlos inaugurado no Verão de 1874. Foi construído em terrenos conquistados ao rio, no local onde é hoje o passeio frente ao café Nau. A plateia deste teatro comportava 253 lugares, os camarotes 42 e as galerias 130. A julgar pelas descrições do exterior e interior do edifício tratava-se de uma excelente e bonita construção. O calcanhar de Aquiles do Teatro Príncipe era o seu palco com apenas 10 metros. Diz a descrição que o fundo do palco era ornamentado com um painel da autoria de Adolfo Loureiro que mostrava a vista exterior do teatro.

Na noite da inauguração, uma sala cheia assistiu ao drama “Opressão e Liberdade”, levado à cena por amadores do concelho. Diga-se que, nesta sala, o teatro de amadores tinha entrada embora no Verão pontificassem as companhias profissionais.
Nos últimos anos o Teatro albergou o Ginásio Clube Figueirense razão pela qual, há poucos anos, os ginasistas erigiram no local uma memória relativa ao edifício.

26 de out. de 2004

O ACTOR DIAS



António Dias Guilhermino nasceu em Maiorca em 1837 e iniciou-se no Teatro Boa União que existia onde está hoje a Universidade Internacional.

Conhecido como “Zé Canaia”, em virtude de ter interpretado uma cançoneta com este nome, aquele que ficaria conhecido como Actor Dias foi levado para o teatro profissional por Apolinário de Azevedo. De Lisboa foi para Coimbra – pretendia, na Lusa Atenas, formar-se em Farmácia, pois exerceu durante muitos anos a profissão de ajudante na farmácia do hospital - mas o êxito que tinha como actor impediram-no de fazer estudos.

Correu o país todo em digressão e conquistou o meio artístico do Rio de Janeiro onde trabalhou no circo. Trabalhou para o empresário Sousa Bastos onde alcançou assinalável êxito na peça “Reino das Mulheres” (1880).

Camilo Castelo Branco, que era seu admirador, adaptou propositadamente para o actor a comédia francesa “O Assassino de Macário” onde Dias desempenhava o papel de “Velho”.

Em 25 de Novembro de 1893 representando o papel de Agapito Solene na comédia “Solar de Barrigas”, António Dias Guilhermino caiu fulminado por uma congestão cerebral.