24 de ago. de 2007

O PORTO E A BARRA DA FIGUEIRA DA FOZ



Um texto de 1947 onde se denota como, às vezes, a capacidade de fantasiar ultrapassa largamente a provável realidade das coisas.

* Em 1916, na festa de colocação da primeira pedra para o Casino do Estoril, o Almirante José Nunes da Mata, professor da Escola Naval, afirmou que o porto de abrigo principal do país, com características até de internacional, deveria ser o da Figueira.
Possível é, pois, que o porto da Figueira venha a ser procurado um dia pela navegação turística, compreendendo também a sua moderna modalidade, visto existir aqui espaço definido para a construção de um aeroporto no braço sul, margem direita, em terrenos que são hoje praia do rio e que tem por tôpo a ponte sul, recentemente construída.
Que mundo novo os progressos da aviação virão abrir num futuro não muito longínquo, sob este aspecto!
Sob o ponto de vista militar muito conviria que o porto da Figueira estivesse em condições de abrigar algumas unidades da nossa Marinha de Guerra, como, por exemplo, submarinos e canhoneiras necessárias para a defesa do país e a fiscalização da pesca.
Poderia até vir a ser um porto franco, devido à sua posição no centro da costa metropolitana, com admiráveis ligações ferroviárias e rodoviárias (…) Com o porto crescerão os negócios, aumentarão as horas de trabalho, multiplicar-se-ão as fontes de receita.
(…) Um importante movimento, relacionado com o tráfego, virá a manifestar-se e já se pode deduzir das estatísticas.
Está integrado nas redes ferroviárias da Beira Alta, da Companhia Portuguesa – hoje unificadas.
(...) Fica a umas escassas dezenas de metros do Mar, o que não acontece com alguns portos de outras cidades, que ficam a quilómetros, sendo evidente que é muito mais fácil manter dragado e fundo um pequeno canal nestas condições, do que um de grande extensão, podendo ainda afundar-se a barra, rompendo-se a rocha do fundo.
(…) Toda a região demarcada do Dão, terá no porto da Figueira, que a dará a conhecer ao mundo, a melhor saída para os seus reputados vinhos (…)
(…) As obras do porto são necessárias, para que a indústria do sal reconquiste a sua posição (…)
A Figueira atingirá então o seu apogeu, a sua potente expansão, e a praia, de tipo nobre e encantador, fará ainda mais a sua fortuna. É esta a grande coluna do seu alicerce, da sua actividade fecunda, que lhe dará âmbito para ter muitas ideias novas, mais liberdade no trabalho e prestígio para o Estado.

* In, Jardim, José, As grandes linhas de uma cidade, Figueira da Foz, 1947