5 de set. de 2007

O FESTIVAL



* A Figueira - zona de turismo e jogo – viu-se subitamente invadida por um grupo de pessoas que a ela ia, não para jogar, não para ouvir cantar o Tony de Matos, não só para apanhar sol na praia e mergulhar nas águas da baía. Vinham de vários lados e o que os reunia era sobretudo uma semana para ver cinema e discutir cinema.

No campo cultural pode mesmo afirmar-se que é (o Festival de Cinema da Figueira da Foz) uma das raras instituições a projectarem-se internacionalmente, e com ela o nome do país.
(…) Não se pode todavia garantir que o seu percurso tenha sido (…) isento de altos e baixos, de crises e de incertezas, bem como de apaixonadas polémicas. Foi afinal este trajecto algo tumultuoso, por vezes mesmo conflituoso (saudavelmente conflituoso, acrescente-se) que terá provavelmente ajudado a criar uma imagem, definir um estilo, impor uma personalidade.
Em Setembro de 1974 teríamos a 1ª edição do Festival, afastado que foi o espectro da censura que tornava anteriormente irrealista qualquer hipótese de se erguer uma manifestação deste género, com um mínimo de dignidade e representatividade. 1974-1975 são edições de transição, a que se segue um período mais largo (1976-1979), durante o qual o Festival se interroga, em busca de uma identidade, procurando instalar-se em espaço próprio que seja só seu. Isso mesmo parece ter sido conseguido. Os anos de 1980-81 são já de uma certa maturidade (…).
(…) Outro aspecto interessante foram as sessões promovidas pelo Festival em várias localidades da região, bem assim como as extensões do certame a outras cidades: Lisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Guarda, Funchal ….
(…) A partir de 78, sobretudo, mas com maior incidência nos anos de 80-81 o Festival afirmou-se como local de eleição para apresentação pública do cinema nacional (…). O prestígio internacional do Festival foi crescendo, afirmando-se por diversas formas. Depois da presença da FIPRESCI é a vez de a Comissão Internacional para a Difusão das Artes e das Letras pelo Cinema escolher a Figueira para reunir e aí passar a atribuir uma das suas onze medalhas anuais.
(…) O Festival cumpre um papel que de outro modo seria improvável ver-se satisfeito em Portugal : assistir à projecção de obras de países de produção quase desconhecida nos mercados tradicionais.
(…) (A Câmara conferiu) ao Festival a Medalha de Mérito de Ouro da Cidade, uma recompensa merecida pelo muito que o Festival tem feito pela cidade, sua promoção cultural e, inclusive, turística.
(…) Impensável será agora parar a máquina, privar o País de um acontecimento de tamanha repercussão interna e externa.

* Lauro António, Dez anos de Cinema em Festival, Figueira da Foz, 1982
O FICFF fez 31 edições e terminou em 2002.