14 de nov. de 2004

A ARBORIZAÇÃO DA FIGUEIRA



Se o leitor fosse de fora da terra, e visitasse a vila da Figueira no verão do ano da graça de 1849, num dia de sol ardente, debalde procuraria um largo, ou praça pública, que lhe proporcionasse a sombra duma árvore amiga a protegê-lo dos raios abrasadores do astro-rei.

O que hoje é a avenida Saraiva de Carvalho, rua Fernandes Tomás e rua da República, formava, com o que ainda existe, o lindo e imponente estuário do Mondego daqueles tempos.

O actual passeio Infante D. Henrique ou Jardim Público, era então, e até não há muitos anos, uma doca natural em miniatura, mal servindo de abrigo às catraias dos pilotos da barra, de estaleiro e de conserto de bateis e pouco mais.

A Praça do Comércio e a Praça Nova apenas marcavam como centros onde convergia toda a actividade mercantil da época, e não se prestavam, por inestéticas e desprovidas de qualquer embelezamento, a servirem de salas de visitas da urbe, aos inúmeros forasteiros que das Beiras e doutros pontos do país aqui acudiam, movidos pelos seus negócios.

Havia só mais dois largos na vila – o Pátio de Stº António e o Adro da Igreja Matriz – mas ambos votados ao mais deplorável abandono!
Imagine-se que, proeminentes às ruas que os circundam, nenhum destes largos era murado, e que apenas umas sebes de silvados e piteiras, onde um ou outro morador vizinho, menos asseado, fazia despejo do, lixo, lhe amparavam o terreno impedindo-o de se desagregar.

Assim, o Pátio de Stº António não desdizia da cerca do Convento que lhe ficava contígua, e da qual se tinha alienado o cemitério que, ainda catorze anos depois de consagrado ao seu piedoso fim era frequentemente designado pelos bem significativos nomes de Cardal publico e Cardal da Ordem Terceira desta vila.

Do adro da Igreja matriz fala-nos a petição que a Junta da Paróquia de 1849 dirige à Câmara Municipal instando pela construção do muro que hoje lhe serve de suporte, a fim de pôr termo à escandalosa indecência em que o exterior do templo se encontrava, enxovalhado por toda a casta de imundícies.

(...)O muro fez-se, a final e o adro foi arborizado, seguindo-se lhe depois a praça do Comércio. (...) Em 1868 foi metade da cerca do hospital da Misericórdia plantada com eucaliptos formando-se a linda mata que o grande escritor Pinheiro Chagas, por ocasião da sua visita à Figueira em 1888 tanto enalteceu.

Em 1890, com o desaterro do terreno hoje ocupado pelo Mercado e algumas casas da rua Cândido dos Reis é aterrada a doca da Paria das Fonte, que se transforma no jardim municipal actual.

(...) Também digno de menção é o facto de na Mata da Misericórdia se terem plantado há uns sete anos, mais umas 5.497 árvores, por iniciativa do seu dedicado provedor Sr. Maurício Pinto (...).

João Coelho, in Álbum Figueirense, 1934

5 de nov. de 2004

A SOCIEDADE ARQUEOLÓGICA FIGUEIRENSE



A Sociedade Arqueológica Figueirense foi fundada em Fevereiro de 1898, mas a ideia da sua fundação terá surgido no espírito de Santos Rocha (NA FOTO) no ano anterior.

Os fundadores da Sociedade foram: António Duarte Silva, António Santos Rocha, Francisco Ferreira Loureiro, Pedro Fernandes Tomás, Augusto Goltz de Carvalho, José Maria Luiz de Almeida, António Gonçalves, Frederico Nogueira de Carvalho, José Pereira Jardim e Sotero de Oliveira.

A Sociedade visava, para além da prossecução de estudos arqueológicos, auxiliar o desenvolvimento do museu municipal. Na primeira sessão foram apresentadas e lidas várias comunicações: As arcainhas do Seixo e Sobreda, Mobiliário neolítico no vale inferior do Mondego, Primeiros vestígios da época do cobre nas cercanias da Figueira, Vestígios da época do bronze em Alvaiázere, Estação luso-romana do Bacellinho, Novos vestigíos romanos no vale inferior do Mondego, todas por Santos Rocha; Sinais gravados em pedras, por Goltz de Carvalho; Inscrições e emblemas existentes nos sinos das igrejas do concelho, por Pedro Fernandes Tomás; Um azulejo do século XVII, por Ferreira Loureiro e As moedas recolhidas nas sepulturas no sítio da igreja velha, no Negrote, por Duarte Silva.

Desta primeira sessão se pode aquilatar o valor da Sociedade, o qual ficou empobrecido com a morte de Santos Rocha em Março de 1910, numa altura em que a instituição se preparava para realizar a sua 15ª sessão.