13 de jun. de 2008

REDONDO JÚNIOR



Não, não dormi com Barrault na cama de Volpone. Mas quantas vezes, quando o Teatro era para mim uma intimidade, me surpreenderam na penumbra gelada do palco, vazia de mistérios e de sonhos, a povoar a cena com os fantasmas das minhas ilusões! Eu também era dos que amavam o Teatro como a sua própria casa. É uma doença de infância irremediável e incurável – mas uma doença de evasão. Há quem atribua algum desencanto do público ao facto de já não se ligar importância, como noutros tempos, ao é proibida a entrada a pessoas estranhas ao teatro. É possível. Quanto a mim, passei a amar mais o Teatro desde que comecei a conhecê-lo mais intimamente – até ao dia das grandes desilusões. Que o amor ao Teatro também se conquista, como as mulheres, com o espírito e os sentidos. É preciso compreendê-lo – ou tentar – e senti-lo, mas senti-lo na carne, por contacto, sem que o amor nunca se realiza. Por isso eu gostava dos palcos embrulhados na sua penumbra gelada, vazios de mistérios e de sonhos e recriá-los à medida dos fantasmas das minhas ilusões.

Redondo Júnior, (1914-1991) jornalista, teatrólogo, dramaturgo, encenador, tradutor, crítico, in "A Juventude pode salvar o teatro"