Pertenceu ao couto de Tavarede que foi villa muito importante nos séculos idos; e teve tambem foros de villa, do dominio e jurisdicçao do duque do Cadaval a quem pertencia tambem a barca de passagem da Figueira para o Cabedello. A antiga alfandega da Figueira, apesar de construida pouco mais ou menos no logar da actual, era designada nos seculos XV a XVII por Alfandega de Buarcos, havendo tambem documentos que lhe chamam Alfandega de Tavarede, a cujo couto a villa pertencia, como fica dito.
No tempo de Filippe II, quando este veio em perseguiçao de D. Antonio, Prior do Crato, as tropas filippinas invadiram Buarcos, relatando a historia os prejuizos que os invasores causaram, sobretudo no convento de Santo Antonio, que datava de 1527; assim como da historia consta tambem que em 1602, foi a antiga villa saqueada e destruida pelos piratas inglezes, que ali aportaram e desembarcaram, tendo trazido uma frota de 7 navios.
Foi sempre povoaçao muito dada a pesca, e ja em 1871, segundo o respectivo censo, contava 2.206 habitantes, na sua maior parte da classe piscatoria, o que ainda hoje sucede, não obstante ter crescido o numero d'almas e de fogos com o desenvolvimento adquirido, e as novas e algumas bem elegantes construções veraniegas, etc. Pelo censo de 1900 ja contava 5033 habitantes.
A Buarcos afluem por vezes grande numero de barcos dos pescadores do norte, que, acossados pelos temporaes, e não podendo entrar na Figueira, pro-curam varar na praia do Buarcos, que lhes offerece o melhor abrigo facilitado pela sua enseada.
Os barcos que veem do largo e pretendem recolher-se ali, teem de transpor as restingas e rochedos da costa, que deixam entre si canaes, ou carreiros, na propria phrase dos Pescadores, dos quaes os mais seguidos por esses barcos sao os chamados Carreiro Grande e Carreiro Pequeno. Com toda a sua pericia de experimentados, os Pescadores conduzem os seus barcos pelos estreitos canaes em referencia, sem tocar nas rochas onde se despedaçariam. Ao sahir, porém d'esses estreitos, e ao entrar no porto, recebem de proa uma forte corrente lateral, em consequência das vagas que se propagam pelos outros carreiros com desegual velocidade, de modo que so manobras muito habeis e felizes evitam que os barcos se voltem e pereçam os seus esforçados tripulantes. Quando o mar se acha encapellado e o temporal e rijo, dao-se alguns sinistros, contando-se sempre victimas, e dando-se na costa as scenas pungentes que podem imaginar-se,
Para se fazer uma ideia da importância do porto de Buarcos, diremos que só nos trez annos de 1868-69, 1869-70 e 1870-71, o valor da pesca realisada foi de 192:83O$023 reis, na moeda do tempo, tendo o respe-ctivo imposto rendido para o Estado 11:529S533 reis.
Nas praias limitrophes da de Buarcos, como sejam Quiaios, Palheiros, Cova de Lavos e Leirosa, havia en tao 28 grandes artes de pesca, 698 redes diversas, 540 apparelhos de anzol, 29 barcos grandes, 27 medianos e 48 mais pequenos, com 1143 Pescadores de profis-sao e 232 adventicios. D'ali se exportava ja peixe, em grande quantidade, para toda a parte', levando só o caminho de ferro de Hespanha e Alemtejo 600 toneladas.
(…)na sua Chorographia Moderna diz-nos João Maria Batista, que a antiga villa de Buarcos foi fundada por gentes da Galliza, que encontrando n`aquela costa abundância de pescaria, ali fizeram construir diversas cabanas de buinhos (espécie de junco) e arcos, e que d`esta circumstancia derivou o nome da povoação.
Figueira da Foz e arredores, indicações gerais para uso dos viajantes, Sociedade da Propaganda de Portugal,1917