8 de jul. de 2004

O BANHISTA DE ALFORGE



"Setembro moribundo, quando os derradeiros banhistas do mês fazem pachorrentos as malas para a abalada, saudosos das distracções que lhes oferecem uma praia engravatada, uma praia de bom-tom - ei-los que desembarcam.

São findas as colheitas e as vindimas: toca a partir! Durante os primeiros seis, oito, quinze dias de Outubro as terceiras classes (por não haver quarta) dos combóios beirões e extremenhos abarrotam desta fauna. Descem ao mar, vindos dos vinhedos do vale do Mondego, das charnecas fronteiriças, dos olivais albicastrenses, das abas da Serra da Estrela. Coifam-se da capucha do Caramulo, vestem a jaleca alenteja, traçam o chale dos campos e várzeas coimbrãs. Alguns trajam saragoças e surrobecos, calçam tamancos, e usam chapeirões; outros, que já estiveram na cedade, trazem feltros escuros e botas de elástico, sua gravata berrante, seu trancelim de prata donde pende uma moeda de dez tostões de duas caras, e engancham no braço esquerdo um deajeitado guarda-chuva. Às mulheres falta,em geral, a coquetaria instintiva que nos centros populosos até nas classes humildes se verifica: são desleixadas, bambalhonas, vestem mal e com mau gôsto. Das velhas não falemos; algumas parecem bruxas arrancadas a um episódio humorístico de Callot e aos sabás grotescos de Goya. É um mostruário vivo de tipos e indumentos."

M. Cardoso Martha, in Álbum Figueirense, Agosto de 1937